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Mostrando postagens de 2016

Os Ipês Amarelos Sobreviventes

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Seja na correria dos deslocamentos de carro ou transporte coletivo, seja no fato de ficarmos trancados o dia todo em um escritório, é fato que cada vez menos reparamos o universo ao nosso redor (parafraseando o título de uma bela canção da Marisa Monte). Na manhã desta terça-feira de outubro uma chuva fina caía. Amena temperatura sinalizava que ainda estamos na primavera, apesar do horário de verão. Precisava me deslocar até a Rodoviária para comprar uma passagem. Apesar da chuva, sabiamente optei por ir caminhando. Até porque é perto de minha casa. E me livro de ter de procurar vaga para estacionar, fato que tem incomodado todo mundo, tanto nas metrópoles como em cidades de médio porte. Esta cidade plana não é exemplo de bom urbanismo: ao longo de décadas os gestores perderam a oportunidade de humanizar e harmonizar pessoas com seu entorno. Faltam calçadas dignas, ciclovias, árvores, gramados, transporte público.  Sobram carros, ônibus barulhentos, calçadas alquebradas, bura

John Coltrane: um amor supremo e a chegada da primavera

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Quando vou fazer alguma tarefa ou ler um bom livro costumo colocar um fundo musical. Na verdade acho que é o contrário: trabalho ou leio enquanto fico atento ao que talvez seja o principal - a música. No caso das leituras consigo achar facilmente a trilha-sonora adequada. Obviamente também quando estou escrevendo, de acordo com o tema. Até quando dirijo, manter o foco na estrada não é problema quando o fundo musical é correto. Hoje ouvi Miles Davis ("Kind of Blue") e John Coltrane ("A Love Supreme"). Não é uma música que - a meu ver - funciona bem durante o dia. Jazz é música noturna. A não ser que seja um dia chuvoso ou pelo menos nublado e frio. Para mim Jazz não combina com sol forte. Uma estratégia para nossos dias tropicais é optar pelo estilo Smoth Jazz, que tem uma leveza rítmica e melódica mais solar, inclusive com fortes conexões com a música brasileira, Bossa-Nova entre elas. Mas esse gênero merece uma dissertação à parte. Na hora em que ouv

Ao Cair da Noite

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Essa frase que uso como título é uma referência a uma sensação sentida a cada fim do dia: o anoitecer me perturba. Na verdade há um exagero literário aqui. Não me incomodo diariamente às 18 horas. Até porque é um momento sagrado na liturgia católica que eu aprendi a observar: Ave Maria! Até nem deveria, pois minha formação inicialmente batista e depois espírita kardecista me deixariam à vontade para não dar relevância a isso. O que pelo menos dá uma pista da minha volatilidade religiosa. Mas isso é outro assunto. Seria o anoitecer uma metáfora dos fins dos tempos ou, pelo menos, a recordação da finitude de todas as coisas? Ao término da claridade me sentiria como que lembrado de que meu tempo urge? Seria esse o motivo dessa leve perturbação? Nem tão dramático assim, afinal é na noite que os grandes mistérios e segredos se fazem acontecer. Transgressões, quebra de regras, beleza da lua refletida no mar, brilho das estrelas, luzes indiretas que passam através das casas envidraça

Quando Entra Setembro

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Poderia começar essa pseudo-crônica com uma frase poética do tipo "um dourado luar sobre aquela noite tropical". Mas não estou conseguindo obter a sutileza que versos e sensações exigem. O fato é que setembro chegou e eu tenho a impressão que existe algo fora de ordem. Não, nem tanto. Não seria a primeira vez. Na verdade o normal é um certo desconforto com a proximidade do fim de mais um ciclo anual. Por outro lado, qual a importância de estar "de acordo com a ordem estabelecida"? A primavera vai chegar e com ela a sinalização de que o verão não está distante. Mas agora brilha o sol de agradável luz pálida e o panorama noturno é embalado por amena temperatura que nos convida a parar para olhar o céu. A vida acontece entre os verões. No verão hiberna-se - próximo ao mar, se possível ou na serra - neste quente estado litorâneo. E muita coisa aconteceu neste entre-janeiros. Pela janela da alma vejo com lentes de vidro que eventualmente podem distorcer a real

A Lutadora

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Estava sentada na sala comum da casa de repouso para idosos. Assistia pela TV a uma luta de Judô das Olimpíadas do Rio. Tentei precisar sua idade. Impossível. Já devia saber disso. Não consigo nunca acertar a idade de mulheres. Sempre erro para menos. Ainda bem. O contrário seria no mínimo indelicado. Mas devia ter entre 75 e 80. Tento aqui, mas sei que devo cair na minha citada incapacidade para isso. Estava vestida com uma simplicidade elegante. O tom claro de um tecido suave combinava com o a cor da pele, que obviamente continha as marcas de suas histórias. Maquiada discretamente, nem o batom nem o pó compacto eram inadequados: pelo contrário, cumpriam sua missão de manter o belo espírito feminino vivo. O mesmo dos brincos, colares, anéis e pulseiras. E dos cabelos encanecidos. Seu interesse no Judô despertou minha curiosidade. De forma vivaz me disse que na juventude havia lutado a arte marcial e que adorava ver combates. Seu marido havia sido faixa-preta. Saudades dele?

As Impressões de Clarice

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Mudei de "condição profissional" e lentamente começo a perceber que posso levar a vida mais lentamente. Ainda não sei as implicações disso, mais desconfio que não serão negativas não. Ok, sei que tenho mil coisas para resolver, que estavam aguardando tempo livre, mas a diferença é que agora posso fazer de acordo com minha vontade. Ou quase. Mas ainda vou escrever sobre isso. Livrar-se do corre-corre diário, das pressões cotidianas é um dos sonhos de consumo da maioria das pessoas. Ilusão achar que isso é possível, de forma completa. Mas buscar aliviar as tensões deve ser uma meta. Desde que não traga... ansiedade! Com esse tempinho extra na agenda, entre outras coisas, dá para se dedicar mais a boas leituras. Pesquisando uns livros da Clarice Lispector para comprar descobri que ela morreu um dia antes de completar 57 anos (seu aniversário é 10 de dezembro). Este ano eu cheguei nesse número e percebi como a querida escritora se foi tão cedo. Ainda bem que ela teve

As últimas viagens dos meus ídolos do Rock

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Acho que os amigos, sabendo da minha conexão integral com todo tipo de música (bem, nem todos os tipos), vivem me mandando links de assuntos ligados ao tema. Agora me chega um que diz que "ficar arrepiado ouvindo música significa ter um cérebro especial". Ôpa! Isso pode ser bom ou ruim. O texto é amplo e mostra pesquisas envolvendo eletroencefalogramas em estudantes que ficam arrepiados com algumas músicas e com outros que nunca ficam. Segundo a mesma, " foi possível notar a excitação (sexual e emocional; nota minha: oba!) que os voluntários sentiam ao ouvir os melhores trechos de cada música. Os batimentos cardíacos aceleraram em todos os participantes, porém, aqueles que se arrepiaram tiveram emoções mais intensas". Seria a comprovação de que uma boa trilha sonora nos acompanhando pode trazer, além de boas recordações, bons momentos no presente. Sempre. E conclui a pesquisa dizendo que a  reação química que o ser humano tem ao ouvir uma música emocionante é p

No balanço do tempo e das experiências: do velho livro à velocidade do amor

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Li alguns livros de auto-ajuda lá pelos idos dos anos 1990. Não leio mais. Me lembrei disso porque soube que que uma das primeiras obras a focar neste tema está completando 70 anos em 2016. E já passou dos 30 milhões de exemplares vendidos! Trata-se de "Como Fazer Amigos & Influenciar Pessoas" do americano Dale Carnegie. Eu não li, mas é de se perguntar como um livro escrito em 1936, antes da Segunda Guerra Mundial, pode continuar despertando interesse. A primeira conclusão que podemos tirar é de que as pessoas continuam com os mesmos problemas de relacionamento e auto-conhecimento. Mas, mesmo sem ler o livro - e apesar de seu contínuo sucesso - duvido que ele permaneça atual. É claro que alguns mandamentos são perenes e devem estar ali descritos, tipo "sorria sempre", "seja gentil", etc. E aí podemos afirmar que mesmo coisas óbvias precisam ser repetidas para que nos lembremos do básico para uma vida melhor. No entanto, convenhamos, nem sempr

Uma Trilha Sonora Para o Inverno

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Nesta semana aconteceu o Solstício de Inverno no Hemisfério Sul. Foi quando entrou o Inverno, mais precisamente segunda-feira passada, dia 20. A definição de "Solstício de Inverno", segundo Dr. Google (M.D.), é de ser um evento astronômico em que o Hemisfério Norte está mais inclinado na direção do sol. Estamos então ao contrário. Lógico. Verão lá, Inverno aqui. Ah! Me lembrei! Não confundam com Equinócio, que é outra coisa, mas que eu não vou falar aqui agora senão o texto vai ficar chato e nem eu vou ter paciência de reler. Esses períodos tinham muita importância para antigas religiões conectadas com a natureza, desde a China até a Irlanda (dos povos Celtas). Muitas celebrações destinadas à presença Divina nos fenômenos naturais, mudanças de estações e para a natureza de forma geral eram feitas. Até hoje devem acontecer em algumas regiões. Mas, outra vez, não é objetivo destas mal traçadas linhas fazer um mapeamento de antigas celebrações. Encontrarão isso facilm

Lembranças Musicais: Do Rádio de Pilha ao Smartphone

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Eu e minhas lembranças nostálgicas. Ainda bem que não estou sozinho. E também não quer dizer que não esteja antenado e vivenciando tudo - ou quase tudo - de novo que aparece por atacado nos correntes dias. Desta vez andei me lembrando, vejam só, do antigo radinho de pilha. Sim aquele mesmo. Acho que todos tivemos né?! Lá em casa tinha um, que acompanhava meu saudoso pai e que depois, ainda jovem, aderi. As novas gerações não estão muito ligadas em ouvir rádio. Vocês já devem ter percebido isso. Diversos fatores contribuíram para esse distanciamento. Na minha época de infância (lá vou eu de novo), subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, ouvir rádio era hábito obrigatório para quem gostava de música. Poucos tinham condições de adquirir equipamentos de som nos anos 60. Aquelas grandes Radio-Vitrolas que eram verdadeiros móveis de luxo na sala. A opção era o rádio de pilha. Pilhas Ray-O-Vac. Ainda não existiam as emissoras FM, de melhor qualidade sonora, que começaram a surgir em

O inverno de um coração urbano

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Nesta semana, ao que parece, o inverno começou a dar sinais de vida, embora ainda estejamos no outono. Aí fica a dúvida: se em 2016 teremos frio de verdade ou apenas uma leve recordação dos casacos esquecidos no armário. Com cheiro de ano passado. Minhas lembranças de épocas em que as estações pareciam ser mais definidas são interessantes. É bom dizer que elas - as lembranças - deveriam ser muitas pelo singelo fato de que eu já ultrapassei o meio século de atividades ininterruptas neste "pálido ponto azul". Mas não são não. O que é preocupante. Estariam elas desaparecendo à medida que somo mais um na contagem progressiva (na verdade regressiva) da vida? Enfim, mais uma conversa a ter com meu Geriatra que eu nem sei quem é pois continuo, teimosamente, me recusando a procurar. Talvez daqui a dez anos. Sei que não é a atitude mais correta em termos de saúde mas é provável que eu tenha a Síndrome da Juventude Eterna. Neste caso melhor procurar um Psiquiatra antes. De

Aconteceu em um verão

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Não sei se narrei aqui - com os devidos detalhes emocionais - o reencontro de minha turma da antiga Escola Técnica, 37 anos depois. Seria um longo texto e acho que ainda devo isso a mim. E aos queridos amigos daqueles saudosos tempos. Mas ainda não será desta vez. Depois do reencontro não perdemos mais o contato e temos realizados até mesmo pequenas viagens juntos. Em um desses bate-papos de lembranças, foi citada uma festa de despedida que fizemos na praia, na casa de um professor. Em um verão de fins dos anos 1970. Éramos tão jovens (isso é título de livro, acho). Essa recordação me levou a outra, de um filme que se passa em 1942, em um verão. E eu sabia que havia escrito algo a respeito e provavelmente registrado no blog do amigo Luiz Felipe Muniz . Estava certo. Foi em 2010 e eu consegui achar o pequeno artigo que reproduzo a seguir. Para nostálgicos, admiradores de delicadezas e românticos em geral. O filme, não o meu sofrível texto. Houve uma vez, um verão Na década de

Morre o mestre musical Isao Tomita

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Fiquei sabendo hoje da morte do músico japonês Isao Tomita. Ele partiu para suas outras esferas cósmicas na quinta-feira, dia 5, mas só ontem foi divulgado em sua página no Facebook. Tomita estava com 84 anos. Não era muito conhecido pelo grande público do Ocidente, fora dos círculos musicais mais especializados. Foi ele um dos pioneiros na utilização mais ampla dos diversos sintetizadores portáteis (portáteis ao nível daquele época; antes um sintetizador ocupava uma sala inteira) desenvolvidos nos anos 1960, sobretudo o Moog Synthesizer. Em fins daquela década Tomita já criava trilhas sonoras "eletrônicas", termo que só seria popularizado muito tempo depois. Sua especialidade, além das criações de trilhas para filmes, era fazer adaptações "cibernéticas" de peças da música clássica, embora seu primeiro disco, de 1972, tenha se chamado "Switched on Rock: Electric Samurai". Costumo chamar suas adaptações de "Impressionismo Cósmico".

Amenidades em um época difícil

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Está difícil escrever neste momento. Falo em escrever sobre amenidades. Leves impressões sobre o nosso dia a dia, observações do cotidiano. Descrições de viagens, resenhas de filmes, discos, livros. Dicas sobre o bem-viver, análises superficiais de nossos aspectos morais, sociais...  caminhos que se abrem nas encruzilhadas do dia, do mês, do ano. Sobre o passar do tempo, sobre a natureza, sobre a labuta diária. Amizades, paixões, distâncias, saudades, reencontros, vivências, poesias, sonhos e planos. Observações urbanas, suburbanas, periféricas, rurais. Descrever sensações, sons, imagens, sabores, texturas, perfumes, beleza. Maio, outono, sol, chuva, vento, mar, luz. Do gosto de uma cerveja gelada ou de um café quente feito no coador de pano até complexas questões existenciais que podem ser simplificadas à sombra de uma árvore frutífera em flor. Sim, está difícil escrever sobre amenidades, como faria Rubem Braga em suas crônicas, que observavam de maneira simples e brilhan

Indo Devagar. No Blog e na Vida.

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Alguns dos 17 amigos leitores deste espaço e do blog do Luis Felipe Muniz tem me perguntado se desisti de externar minhas impressões, uma vez que não tenho postado ultimamente. Verdade. Mas não desisti não. O problema é que, além da tão cantada falta de tempo, ainda tive um leve problema de saúde em janeiro. Estava nadando no mar com minha filha quando senti uma forte dor na coluna se estendendo em algumas direções. Coração? Não. Coluna mesmo. Alguns daqueles discos (que não são musicais) andaram se deslocando do lugar em que deveriam permanecer e pressionaram nervos que se dirigiam a um dos braços. Resultado: dor e dormência contínua no braço e mão direitos. Como digito muito e rapidamente tive que me poupar para continuar trabalhando. Medicamentos e Pilates já estão me colocando no eixo, sem necessidade cirúrgica, que chegou a ser ventilada. Enfim, não dava para utilizar os teclados - a não ser muito lentamente no meu ganha-pão - que não são os blogs, como sabem. Aos poucos vol