A Pandemia e a Primavera
Por volta de 1980, quando ele e Ronaldo Bastos compuseram esta canção, eu estava com 20 anos. Já tinha ouvido falar de muitas histórias sobre a pandemia da gripe espanhola. Para nós daquela geração isso era coisa de um passado distante que não aconteceria mais. Estava preocupado em arranjar um estágio e conseguir comprar os discos contendo as trilhas sonoras originais dos filmes "Saturday Night Fever" e "Grease", uma vez que os que eu tinha eram covers, adquiridos com dificuldade por um preço bem mais em conta. Já o disco "Sol de Primavera" eu comprei assim que foi lançado. Os nacionais eram mais baratos e esse não era álbum duplo.
Em seus versos, os símbolos e as mensagens de esperança se confundem: "abre as janelas do meu peito". Até que tento. Mas o máximo que consigo é abrir a janela da sala e ver os fundos do campanário, alta e bela torre da grande Igreja. O que me faz lembrar de outra canção mineira, "Paisagem da Janela", composta por Lô Borges e Fernando Brant onde eles dizem que vêem uma igreja, um sinal de glória. Mas em 1972 esses outros mineiros também davam sinais premonitórios negativos: "Mensageiro natural de coisas naturais / Quando eu falava dessas cores mórbidas / Quando eu falava desses homens sórdidos / Quando eu falava desse temporal / Você não escutou". Não mesmo.
Lá se vão seis meses de uma lacuna a ser desvendada por historiadores, sociólogos, filósofos e psicólogos. Nesta quase ficção científica de pausa de espaço/tempo são as reações de cada um e de grupos, os mistérios inspiradores para futuras canções mineiras e universais. Inseridas nas linhas de tempo pessoais, o que foi e o que está sendo a própria vida e suas ações acerca disso tudo. Vida que, aos poucos, tende a ir para o que chamam de "novo normal", pelo menos até que todos estejam imunizados.Ainda não fiz um balanço deste tempo, de minhas atividades, reações, realizações. Até porque não terminou ainda. E nem sei se dá pra fazer uma análise disso. Ou se é recomendável. Não são poucos que afirmarão a máxima "2020, o ano que não existiu"!
Largo o Notebook e vou outra vez até à janela. Saudade de tudo e de todos. A moça do tempo disse que o feriadão vai ser de sol aberto, prenúncio de verão. Mas no momento as nuvens e o vento dão cara de outono à este inverno quase mudança de estação. O jornal da TV diz que as rodovias estão movimentadas e as praias estão cheias, com muitos ignorando o aviso de cuidado. Para eles talvez tenha chegado o momento de desafiar os perigos. Ou simplesmente nunca acreditaram neles. Neste caso caberia ao genial Nelson Rodrigues sua afirmação de que "se os fatos são contra mim, pior para os fatos". E lá se vão 125 mil até agora.
É na janela, olhando a torre do sino, que me lembro daquela famosa frase do Che Guevara. Ao parafraseá-la, ampliando o escopo das figuras que se "destacaram" neste período, crio uma curiosa fauna: O vírus, os poderosos, os negacionistas podem matar uma, duas, três rosas (ou milhares), mas jamais conseguirão deter a primavera inteira. Afinal, a ciência, a inteligência, o conhecimento e as artes estão do nosso lado.
De volta ao mineiro de Montes Claros, a esperança está em seus derradeiros versos: "Mesmo assim não custa inventar / Uma nova canção / Que venha trazer sol de primavera / A lição sabemos de cor, só nos resta aprender".
Amei, me fez recordar de canções que adoro, de pessoas que admiro (Che) e que vou continuar a admirar! Perfeito!😘👏
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Que ótimo que se identificou. Abraço!
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