Um passeio casual em plena pandemia e uma análise de nossa situação
Como quase todos daqui de casa fazem parte do grupo de risco e como temos a possibilidade de cumprir a quarentena determinada pelas autoridades sanitárias, estamos por aqui ao longo de todo esse tempo. Para nossa proteção e dos que não podem cumprir por motivos diversos.
De vez em quando saímos para resolver aquelas coisas imprescindíveis, como fazem todos que estão em situação semelhante.
Nesta semana aconteceu um desses dias.
Precisava ir na farmácia. E passar em um lugar para fazer umas doações neste momento tão difícil.
Confesso que também estava pensando em parar em uma pequena delicatessen perto de casa que vende uns vinhos a bom preço, considerando que o estoque está diminuindo e a transportadora está demorando entregar uns que comprei na promoção sem cobrança de frete. A preocupação de ter em casa este fermentado de uva é que o inverno está às portas. Além disso alguns franceses produtores andam dizendo que aumenta a imunidade...
- Vou ter que sair!
"Também queremos ir", responderam todos. Não é o correto mas haja visto que, com mais de dois meses em prisão domiciliar (sem tornozeleira), a necessidade de sair um pouco se faz presente até como forma de dar um alívio para reenergizar.
Máscaras, álcool gel no carro, janelas abertas.
Tinha que ir na farmácia trocar um produto para facilitar a digestão de lactose. Pelo delivery veio um errado, da empresa Mantecorp, chamado Lactosil. Por que diabos a Mantecorp me lança um produto que, adicionado ao leite, o transforma em "Sem Lactose" se em qualquer supermercado de esquina tem leite sem lactose? A farmacêutica também não teve resposta. Acho que deixei um tema pra ela pesquisar.
Resolvida a questão (mas não o mistério) e depois das doações, paro no estabelecimento em busca dos tais vinhos. Apesar do espaço restrito a quantidade de marcas é bem variada e eu gosto de ver com calma rótulos e preços. O problema é manter a distância dos demais clientes. Não estava me sentindo nada a vontade e a coisa se complicou quando vi um sujeito sem máscara. Olho pra ele como forma de censura. Cara de poucos amigos. Provavelmente uma forma prévia de se defender antes que o ataquem. Penso em fazer uma censura verbal mas vejo que a resposta dele iria jogar mais perdigotos no ar. Desisto de escolher com calma as bebidas e pego duas garrafas que já conhecia: um Santa Helena Carmenère edição especial vinda em uma garrafa adornada de ramos (a um precinho bem camarada) e uma aposta certa que é o Casillero del Diablo Cabernet Sauvignon 2018. Ambos ainda não afetados pela disparada do dólar.
Paguei no crédito (porque no débito tá complicado) mas o camarada sem máscara é que continuava me incomodando. O que eu poderia fazer? Aí me lembrei que na entrada costumava ficar um segurança que eu não tinha visto desta vez. Peguei os vinhos, saí e fiquei procurando. Ele estava a uns trinta metros conversando. Fui lá e relatei o fato. Ele arregalou os olhos me pediu desculpas e partiu para loja. A questão foi resolvida com uma máscara que o próprio estabelecimento deu pro cliente despreocupado.
Depois dessa voltamos para casa, não sem antes passar pela ponte sobre o rio para minha filha registrar o belo anoitecer que enfeita esse relato casual.
No carro a trilha sonora de fim de tarde era Jean-Luc Ponty,
Se estávamos um pouco cansados de estar em casa, retornamos com gratidão para o abrigo que temos: o exterior hoje parece ser um território com um inimigo invisível a nos espreitar.
Enquanto não resolvemos isso, resta-nos as saudades dos amigos e parentes que não podemos abraçar.
Ainda bem que ainda temos o vinho neste frio que se aproxima.
Post Scriptum:
Como diria o Chico, "agora falando sério".
Poderíamos estar em situação não tão catastrófica como estamos agora.
Não há necessidade de criticar o governo federal pois é óbvia a sua culpa: não fossem suas desastradas ações (ou não ações) contaríamos menos mortos e a economia já estaria a caminho da normalização.
O médico e neurocientista Miguel Nicolelis, um dos brasileiros mais respeitados no exterior (professor de medicina na Universidade de Duke, EUA), afirmou que "a quantidade de erros é um caso histórico. Vai entrar para a história, vai haver uma descrição do grande fracasso do governo federal em lidar com a maior crise sanitária. Ouso dizer que esse evento vai entrar como a maior guerra da história do Brasil porque é uma guerra biológica e as pessoas não se deram conta".
E continua: "Não
há sistema hospitalar no mundo que dê conta da capacidade de reprodução desse
vírus. Então, como não levamos a sério desde janeiro, não ajudamos estados e
municípios do ponto de vista de um governo unificado, não criamos testagem
eficiente em todo Brasil, não criamos equipamentos necessário e não tiramos
vantagem do sistema de saúde, dos agentes de saúde que deveriam ser a primeira
linha de defesa", afirmou. Segundo ele, os números de mortos continuarão
subindo e "vamos bater vários recordes diários".
Sobre como estão vendo a reação do Brasil à pandemia: "Tenho 59 anos. Viajo pelo mundo há 30 sem parar. Nunca vi o Brasil descer a patamares tão baixos de crítica, censura. Os maiores jornais do mundo definiram o presidente do Brasil como inimigo número 1 da pandemia no mundo".
Essa entrevista em vídeo pode ser conferida aqui e, completa, aqui.
Em resumo, a pandemia está aí e os reflexos dela no Brasil poderiam ser bem menores em termos de mortos e em termos econômicos. O governo federal conseguiu criar o pior dos mundos com sua negação do problema: imensa quantidade de vidas perdidas e o pior resultado possível na economia. Temos um culpado disso.
De vez em quando saímos para resolver aquelas coisas imprescindíveis, como fazem todos que estão em situação semelhante.
Nesta semana aconteceu um desses dias.
Precisava ir na farmácia. E passar em um lugar para fazer umas doações neste momento tão difícil.
Confesso que também estava pensando em parar em uma pequena delicatessen perto de casa que vende uns vinhos a bom preço, considerando que o estoque está diminuindo e a transportadora está demorando entregar uns que comprei na promoção sem cobrança de frete. A preocupação de ter em casa este fermentado de uva é que o inverno está às portas. Além disso alguns franceses produtores andam dizendo que aumenta a imunidade...
- Vou ter que sair!
"Também queremos ir", responderam todos. Não é o correto mas haja visto que, com mais de dois meses em prisão domiciliar (sem tornozeleira), a necessidade de sair um pouco se faz presente até como forma de dar um alívio para reenergizar.
Máscaras, álcool gel no carro, janelas abertas.
Tinha que ir na farmácia trocar um produto para facilitar a digestão de lactose. Pelo delivery veio um errado, da empresa Mantecorp, chamado Lactosil. Por que diabos a Mantecorp me lança um produto que, adicionado ao leite, o transforma em "Sem Lactose" se em qualquer supermercado de esquina tem leite sem lactose? A farmacêutica também não teve resposta. Acho que deixei um tema pra ela pesquisar.

Paguei no crédito (porque no débito tá complicado) mas o camarada sem máscara é que continuava me incomodando. O que eu poderia fazer? Aí me lembrei que na entrada costumava ficar um segurança que eu não tinha visto desta vez. Peguei os vinhos, saí e fiquei procurando. Ele estava a uns trinta metros conversando. Fui lá e relatei o fato. Ele arregalou os olhos me pediu desculpas e partiu para loja. A questão foi resolvida com uma máscara que o próprio estabelecimento deu pro cliente despreocupado.
Depois dessa voltamos para casa, não sem antes passar pela ponte sobre o rio para minha filha registrar o belo anoitecer que enfeita esse relato casual.
No carro a trilha sonora de fim de tarde era Jean-Luc Ponty,
Se estávamos um pouco cansados de estar em casa, retornamos com gratidão para o abrigo que temos: o exterior hoje parece ser um território com um inimigo invisível a nos espreitar.
Enquanto não resolvemos isso, resta-nos as saudades dos amigos e parentes que não podemos abraçar.
Ainda bem que ainda temos o vinho neste frio que se aproxima.
Post Scriptum:
Como diria o Chico, "agora falando sério".
Poderíamos estar em situação não tão catastrófica como estamos agora.
Não há necessidade de criticar o governo federal pois é óbvia a sua culpa: não fossem suas desastradas ações (ou não ações) contaríamos menos mortos e a economia já estaria a caminho da normalização.
O médico e neurocientista Miguel Nicolelis, um dos brasileiros mais respeitados no exterior (professor de medicina na Universidade de Duke, EUA), afirmou que "a quantidade de erros é um caso histórico. Vai entrar para a história, vai haver uma descrição do grande fracasso do governo federal em lidar com a maior crise sanitária. Ouso dizer que esse evento vai entrar como a maior guerra da história do Brasil porque é uma guerra biológica e as pessoas não se deram conta".

"Não há sistema
hospitalar no mundo que dê conta da capacidade de reprodução desse
vírus. Então, como não levamos a sério desde janeiro, não ajudamos
estados e municípios do ponto de vista de um governo unificado, não
criamos testagem eficiente em todo Brasil, não criamos equipamentos
necessário e não tiramos vantagem do sistema de saúde, dos agentes de
saúde que deveriam ser a primeira linha de defesa", afirmou.
Segundo ele, os números de mortos continuarão subindo e "vamos bater
vários recordes diários". ... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/06/05/uol-entrevista-miguel-nicolelis.htm?cmpid=copiaecola
"A quantidade de erros é
um caso histórico. Vai entrar para a história, vai haver uma descrição
do grande fracasso do governo federal em lidar com a maior crise
sanitária. Ouso dizer que esse evento vai entrar como a maior guerra da
história do Brasil porque é uma guerra biológica e as pessoas não se
deram conta", ... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/06/05/uol-entrevista-miguel-nicolelis.htm?cmpid=copiaecola
A quantidade de erros é
um caso histórico. Vai entrar para a história, vai haver uma descrição
do grande fracasso do governo federal em lidar com a maior crise
sanitária. Ouso dizer que esse evento vai entrar como a maior guerra da
história do Brasil porque é uma guerra biológica e as pessoas não se
deram conta",... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/06/05/uol-entrevista-miguel-nicolelis.htm?cmpid=copiaecola
O
médico classificou o auxílio emergencial de R$ 600 para ajudar os trabalhadores
durante a crise gerada pela pandemia do coronavírus como uma "gota no
oceano" e avaliou que o governo federal "enrolou e não fez
nada". Ele lembrou que nos Estados Unidos a ajuda foi de US$ 1.200 (cerca
de R$ 5,9 mil) e disse que o Brasil deveria ter se preocupado com os parâmetros
macroeconômicos depois da pandemia. "É óbvio que para as pessoas ficarem
em casa elas precisam sobreviver, poder comer, pagar contas (...) Você tem que
dar condições mínimas para as pessoas ficarem em casa e isso é papel do governo
federal".Sobre como estão vendo a reação do Brasil à pandemia: "Tenho 59 anos. Viajo pelo mundo há 30 sem parar. Nunca vi o Brasil descer a patamares tão baixos de crítica, censura. Os maiores jornais do mundo definiram o presidente do Brasil como inimigo número 1 da pandemia no mundo".
Essa entrevista em vídeo pode ser conferida aqui e, completa, aqui.
Em resumo, a pandemia está aí e os reflexos dela no Brasil poderiam ser bem menores em termos de mortos e em termos econômicos. O governo federal conseguiu criar o pior dos mundos com sua negação do problema: imensa quantidade de vidas perdidas e o pior resultado possível na economia. Temos um culpado disso.
Muito bom!
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