Já é Natal na Leader, já é hora?

Já fui inimigo mortal do jingle "Já é Natal na Leader já é hora". Faz tempo. Não me perguntem porque. Afinal é só mais uma daquelas centenas de músicas natalinas que passaram por minha vida. Vida. Talvez seja isso. Ao longo dos anos nem percebemos a passagem do tempo e em dado momento bate aquela consciência de que ele já não está tanto do nosso lado. Não tenho certeza se, aos 75 anos, Mick Jagger e cia gravariam "Time Is On My Side", registrada em 1964, quando eles tinham pouco mais de 20.
Já disseram que os festejos do final do ano são para enganar nossos sentidos mais íntimos de solidão e impermanência. Não concordo nem discordo. Mas sei que psicólogos, filósofos e mestres de auto-ajuda tem de mostrar serviço não é mesmo?
E tem a questão do balanço - ainda que inconsciente - do ano que se vai e das expectativas ou planos sobre o que virá.
Um conhecido especialista na área certa vez me afirmou que estar com amigos, familiares e comunidade nas confraternizações é um poderoso antídoto contra a depressão periódica de fim de ano. Por isso não paramos. A gente reclama do corre corre, mas nós é que que o criamos estrategicamente. Ele que disse.
Estar com pessoas queridas é sempre um dos significados da vida, independente da época.
Um colecionador de discos me diz que nunca se sentirá sozinho tendo sua coleção por perto até o fim da vida. Um outro fala que, apesar de tudo, é maravilhoso viver em uma época que existiram os Beatles e me aponta a discografia da banda na estante: "é o sentido da minha vida". O outro arruma seus livros e me fala que não precisa de mais nada.
Em "Casa no Campo", Rodrix (junto com Sá & Guarabyra e seus rocks rurais) diz querer livros e discos, mas não dispensa "plantar" os amigos. E nada mais.
E as igrejas estão cheias, mais ainda no final do ano.
Como vemos, em pequenos e rápidos exemplos, cada um busca - na maioria das vezes sem estar consciente disso - um sentido. Busca que fica um pouco mais nítida na época das "Boas Festas".
Se já é Natal na Leader já é hora, eu me pergunto: hora de que? Ok, de comprar presentes para a roda da economia girar. Mas será só isso? E falar em "comprar" traz ainda mais apreensão em um dos anos mais difíceis que nossas gerações tiveram.
Talvez seja hora de ressignificação e resistência tanto coletiva quanto individual. Sobre o sentido de comprar ou o sentido da vida.
Raul Seixas, sempre irônico, já falava que duas coisas o deixavam preocupado: a verdade do universo e a prestação que vai vencer.
Entre esses dois extremos nos equilibramos pois trata-se de uma panela efervescente onde estão, ao mesmo tempo em comunhão e colisão, paradoxos de nossa vivência diária, como os saudáveis relacionamentos e o nosso ser solitário, os nossos hobbies divertidos e nosso tédio momentâneo, o valor que damos ao dinheiro e o valor que ele tem emocionalmente falando, o que achamos e o que é realidade, o nosso desejo de eternidade e a consciência do tempo que se esvai, os Beatles e os Rolling Stones, o simpático comercial da Leader (este de 2018 sobretudo) e a minha aversão ao jingle (o original) que o embala.
E neste momento olho para o que escrevi acima e me certifico de que não era isso que queria relatar com relação à musiquinha. O texto tomou caminhos próprios e ficou confuso. Vou então deletar tudo e começar outra vez mas penso: não seria essa mistura de temas e sentimentos a marca deste momento? O termo "confuso" seria um bom título para essa travessia 2018 - 2019. Então este arremedo de crônica está dentro dos parâmetro que poderíamos considerar normais hoje. Não vou deletar. Boa sorte aos que estão lendo e chegaram até aqui.
Montei hoje a tradicional árvore de natal e acho que por isso me lembrei da fatídica música que teve o mérito de me fazer voltar a escrever, ainda que muito mal, convenhamos.
Mas a arvorezinha também me fez recordar de outros tempos, infantis, quando arrancávamos um galho da goiabeira do quintal e o cobríamos com algodão, pendurando algumas bolas coloridas e instalando o 'pisca-pisca' que nos acompanhava por muitos anos, comprado que foi à duras penas. Mas isso é outra história... e naqueles tempos não era hora da Leader.





Comentários

  1. Olá! Como é bom ver um texto novo aqui no seu blog!Adorei! Não nos deixe órfãos, escreva sempre! Bjs

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  2. KKKKKKKKKKK Eu também odiava aquilo que ficava tocando o tempo todo na loja. Esse video aí tá muito legal. Não sei nas lojas se eles continuam tocando aquele irritante jingle já é natal na lider já é hora.

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