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Esta semana quase não acompanhei o noticiário. O que é uma raridade. Na época não digital eu assinava revistas semanais, jornais locais e nacionais. E ainda assistia ao resumo do dia na TV aberta, porque não existiam os canais fechados de notícias. Não sei bem porque, mas sempre foi assim. Com as facilidades atuais, passei a acompanhar também online os acontecimentos.
Como afirmei, fiquei desatualizado porque os últimos dias foram de dedicação exclusiva a um ótimo congresso de trabalhadores, de 8 às 22 horas, em média, onde revi amigos, conheci outros e nos preparamos para embates que teremos pela frente. E isso apesar de estar enfrentando uma daquelas recorrentes crises de rinite por conta da queda brusca de temperatura. Como estava longe de casa e consequentemente não poderia marcar uma consulta de encaixe urgente com a excelente otorrinolaringologista que pacientemente me acompanha há 40 anos (acho que há algum tipo de figura de linguagem aqui, pois no caso o paciente sou eu) o jeito foi me automedicar para poder continuar no congresso. Assim, passei na drogaria e comprei um medicamento à base de Maleato de Bronfeniramina 12 mg e Cloridrato de Fenilefrina 15 mg. Comprimidos revestidos de liberação programada. Laboratório Aché. Aqui pra nós, essas denominações deixam bem claro que temos muitas reações adversas e efeitos colaterais, que fique claro. E complica se você misturar com bebidas alcoólicas, que foi exatamente o que fiz pois não resisti ao coquetel da noite de abertura que tinha uma banda de rock animando. Além da cerveja alguém apareceu com uma garrafa da Cachaça São Francisco e duas da Seleta. Com o frio que estava fazendo foi difícil resistir a esse tipo de remédio. Quanto ao outro, da farmácia, tem de ter cuidado pois inibe a coriza mas se ressecar muito a garganta tem de parar, caso contrário a tosse aumenta. Viu doutora, depois de 40 anos aprendi alguma coisa...
Esta semana veio logo depois de outra em que também pouco soube das novidades. É que na anterior me dediquei à Bienal do Livro em que pude conhecer e conversar com alguns ídolos literários, sendo o maior deles o Ruy Castro (por coincidência o homenageado deste ano na Bienal do Livro do Rio), imortal da Academia Brasileira de Letras. Genial biógrafo de nomes como Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmem Miranda. Mas seu forte são as histórias das épocas na cidade do Rio de Janeiro, como os imperdíveis "Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova", "A noite do meu bem - a história e as histórias do Samba-Canção" e "As vozes da metrópole: Uma antologia do Rio dos anos 20". Também cronista de mão cheia como pode ser conferido nas antologias "Tempestade de Ritmos" e "Amestrando Orgasmos". Mas o que pedi a ele foi que falasse do seu lado romancista. Ele rechaçou a ideia do título "romancista" pois alegou que tem pouca imaginação para criar histórias, tarefa que sua esposa Heloísa Seixas (também presente) é especialista. Segundo ele o que faz em seus romances é pesquisar dados reais e acrescentar algumas invenções como foi o caso de "Os Perigos do Imperador - Um romance do Segundo Reinado" (Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira de Livros). Reforçou isso no autógrafo deste livro: "Marcos, aqui tudo é verdade, menos a história! Abraço do Ruy Castro. Campos, 2025".
De volta a esta semana, retornei ao lar na noite de ontem, quinta-feira. E nem deu pra comemorar o Dia dos Namorado com a esposa pois eu queira cama, no sentido de repousar mesmo. O Decongex Plus fazendo aqueles tais efeitos colaterais no sistema nervoso central. Liguei a TV e finalmente fui me atualizar. Vejamos. Israel continua bombardeando Gaza para eliminar os terroristas do Hamas. Mais de 70 mil civis mortos, a maioria mulheres e crianças. Israel interceptou em águas internacionais a embarcação "Madleen" da Coalizão Flotilha Liberdade com ajuda humanitária para Gaza. Entre os presos o ativista brasileiro Thiago Ávila e a sueca Greta Thunberg. A Russia bombardeou a capital ucraniana Kiev que por sua vez bombardeou Moscou. Caiu um Boeing 787-8 da Air India 30 segundos depois da decolagem. 240 mortos. Israel ataca o Irã, incluindo áreas civis. Teerã diz que Israel e EUA irão pagar caro por isso. Morreram os geniais Sly Stone (da Sly & the Family Stone) e Brian Wilson (dos Beach Boys). No Brasil o Congresso dá mais duas amostras de sua competência (contém ironia): deputados extremistas "tabajaras" fazem show para o Tik-Tok e não deixam o Ministro da Fazenda falar. Presidente da Câmara agenda reunião de urgência para derrubar projeto do governo que visa cobrar impostos de investidores milionários. E por aí vai. De bom apenas um vídeo do depoimento patético de uma figura patética que deverá passar um bom tempo no resort da Papuda.
Não sei se foram apenas as notícias ou se elas foram potencializadas pelos medicamento, mas bateu um desânimo com essa realidade. Deu saudade da Bienal e do Congresso em que fiquei sem saber de nada. Eu nunca concordei com aquele provérbio que diz que a ignorância é uma benção. Não sei não. Pelo menos neste fim de semana voltarei a ficar distante das notícias. Pretendo retomar a leitura de "A Floresta Sombria", segundo livro da trilogia "O Problema dos Três Corpos", do chinês Cixin Liu. Nela, os humanos parecem se unir contra uma ameaça externa que vai acontecer daqui a quatro séculos. Quer dizer, nem todos. Sempre tem aqueles que ficam do lado do inimigo, vocês sabem... Com o frio, a leitura, fundo musical tranquilo e um pouco de vinho (mesmo com o antialérgico) acalma a alma. Bons filmes ou séries também me ajudarão a manter distância do noticiário tóxico. Semana que vem, veremos. Quer dizer, lembrei agora que o "Rio das Ostras Jazz & Blues Festival" começa na quarta. Que bom!
Marquinho, misturar álcool e antialérgico é complicado mas você está escolado no tema. Sabe dosar. Camarada, seus textos estão cada vez melhores. Começo a ler e fico com pena quando acaba. Abração procê!
ResponderExcluirObrigado Jonas! Quanto ao antialérgico, ele provoca sonolência mas em mim o efeito é o contrário. O álcool contrabalança! Rsrs
ExcluirOlá Marcos. Vc faz crônicas leves e ironicas mesmo com assuntos espinhosos. E também sabe falar sobre assuntos bem diferentes no mesmo texto sem perder a fluência. Um grande cronista!
ResponderExcluirValeu Rafaela! Essa mistura de temas saem naturalmente e às vezes até eu me surpreendo. Abraço!
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