A Academia e a Cerveja

Manhã da última quarta-feira. Por conta de trabalho na segunda e terça eu não tinha ido na academia, não que eu vá todos os dias, embora sempre planeje. Escolhi a roupa mais leve possível pois, diferente deste sábado frio e chuvoso (no momento em que escrevo está fazendo 22º e isso já é frio pra mim), era um dia de pré frontal, abafado. Quando estava saindo meu filho pediu para comprar umas frutas. Não estava nos planos me deslocar até o Hortifruti depois da musculação mas, fazer o que...

Naquele dia procurei fazer mais alongamento e esteira, resguardando músculos e articulações. Explico. Eventualmente me arvoro nos equipamentos mais pesados, tentando acompanhar os marombeiros e marombeiras de plantão mas a mente, com aproximadamente 25 anos, não corresponde aos reais 65. O resultado é um Dorflex no fim do dia e um forçado afastamento por um período, até a recuperação total. Ideias de jerico. Um dia aprendo. Dá tempo. 

Ao final, desanimado de fazer um deslocamento maior até o Hortifruti, lembrei que ali perto tem um supermercado que possui seção de frutas. Resolvida a questão. 11 horas. Estacionei o carro e entro no estabelecimento. Vejo na minha esquerda uma promoção inusitada. A cerveja de origem belga Blue Moon, que faz parte do portfolio da Heineken Brasil, estava custando R$ 4,50 a lata de 355 ml. Fato 1: não é uma cerveja barata, costuma ser vendida a mais R$ 8,00 e não é latão de 473 ml. Fato 2: é muito difícil ve-la disponível em gôndola de supermercado de bairro, só nos maiores, quando tem.

Não bebo grande quantidade de cerveja, pelo contrário. Isso me permite escolher aquelas que realmente gosto, mesmo as que não tem preço convidativo. A estratégia é sempre dar uma olhadinha na seção de bebidas, se encontro alguma promoçao que compense vou repondo o pequeno estoque caseiro, ainda mais em épocas quentes (atualmente quase o ano todo). Mas nunca achei a Blue Moon em promoção. Seu preço se justifica. A fama não é em vão. Para quem gosta de uma Witbier é o supra-sumo. Já me adiantando para quem não sabe do que se trata, segue um copia e cola: "O estilo Witbier, de origem belga, também chamado de Bière Blanche e White Beer, é uma cerveja de coloração amarelo-palha e é indispensável que apresente alta turbidez. Tanto o aroma quanto o sabor apresenta notas de coentro e cascas de laranja e o amargor é baixo, quase inexistente. De alta fermentação, é produzida com uma grande proporção de trigo em relação à quantidade de cevada maltada". Entenderam?

Enquanto estava na seção de frutas, calculava se valia a pena levar algumas daquelas belas latinhas azuis. A conclusão foi positiva. Na saída me dirijo ao local mas minha caminhada é interrompida quando vejo que ali, em volta da Blue Moon, estavam quatro homens - todos com cerca de 30 anos - falando, apontando a cerveja, mexendo nelas. Algo estranho, pois não estavam comprando. Fiquei por perto, tentando ouvir o que comentavam mas o burburinho do mercado não me permitia entender. Nessa altura eu já estava era curioso. Seriam fiscais públicos que detectaram alguma anormalidade e estavam confubalando que medidas tomar? Definitivamente ficar parado não iria resolver o impasse. Peço licença, começo a pegar as latas e me volto para eles que tinham parado de falar e estavam olhando para mim. Dou aquela olhada cinematógráfica e pergunto: "senhores, algum problema com esta cerveja?". Contina no próximo parágrafo.

Segue o diálogo. Eles: Não de forma alguma, pelo contrário! O senhor gosta da Blue Moon? Eu: Gosto mas estou estranhando este preço e o fato de vcs estarem aqui parados olhando pra ela e falando não sei o que... Eles (sorrindo): Estamos fazendo uma promoção em alguns pontos da cidade e paramos aqui para conferir. 

Um deles engrena em diálogo mais detalhado. Se apresenta e apresenta um dos outros: "este é o representante da Heineken Brasil". Me surpreendo com a presença de figuras proeminentes do mundo cervejeiro em um supermercado do meu bairro que não era um Carrefour ou semelhante. Ficamos conversando por um tempo até que aquele mesmo do início me pergunta se eu conheço a cerveja Praya. Não conhecia. Ele me diz que era tão boa quanto a Blue Moon, talvez eu até gostasse mais. O CEO da Heineken (não sei se era o CEO) recomenda que ele pegue uma e me dê. O jovem de aparencia de surfista - estou estrategicamente me adiantando ao texto - se anima e diz que "vamos tomar uma agora"! Fiquei sem entender. Era aproximadamente meio dia de quarta-feira eu tinha saído da academia, ia pra casa tomar um banho e almoçar e estávamos em um supermercado não em um bar! Ele saiu repentinamente, eu disse: "tomar uma agora? Ele tá de sacanagem comigo." Os outros começaram a rir com meu espanto.

Ponho as cervejas no carrinho, me dirijo ao caixa e mal termino de pagar me aparece o surfista com duas latinhas de 269 ml, geladíssimas, da tal Praya. Me estende uma e faz o movimento de brinde. Sem opção abro e dou o primeiro gole. É ótima mesmo! Continua no próximo parágrafo.

Fiquei sabendo que a receita havia sido criado por ele depois de muito tempo dedicado ao surf. Seu plano era fazer uma cerveja leve, com sabor marcante, bom teor alcoólico e que remetesse ao ambiente praiano. Eu disse que frequentava muito Rio das Ostras, de belas praias. Ele sinaliza para o representante da Heineken que logo pergunta se eu posso indicar algum local onde poderiam passar para deixar a Blue Moon e a Praya. Eu indico dois estabelecimentos que ele anota e informa que iriam passar lá naquele dia mesmo.

Eles precisavam seguir viagem, me despedi. Entrei de novo e desta vez comprei algumas garrafas da Praya (ele me disse que ficava melhor ainda no recipiente de vidro). Indo pra casa fiquei pensando nessa coincidência e resolvi pesquisar um pouco mais via Google. Não achei muita informação disponível mas consegui uma matéria de 2021 que contava a história e me surpreendi. O titulo era "Dá para melhorar o mundo fabricando cerveja? A Praya acaba de virar a primeira cerveja carbono neutro do país". Foi fundada no Rio por quatro amigos e o criador da fórmula era aquele mesmo que eu encontrei, cujo nome não perguntei mas deve ser meu xará Marcos, que pensou na cerveja em uma de suas viagens para a California. Provavelmente dois dos outros estavam juntos. Além de buscar um sabor praiano (substituiram a casca de laranja da Witbier por limão siciliano, algo inédito e que teve um ótimo resultado), a preocupação da marca (agora distribuída pela Heineken) é com relação ao meio ambiente. Vocês podem conferir a matéria toda clicando aqui.

Depois de ler o artigo muito interessante me arrependi de não ter conversado mais com eles, saber mais da história, até para escrever algo mais detalhado. Percebi que não peguei seus contatos e sequer tirei uma foto para postar. E o celular estava no bolso...

Teve um momento, do lado de fora do supermercado onde estávamos tomando a cerveja, que um deles falou: "você nunca vai esquecer essa coincidência". Na hora não cheguei a dar a devida importância mas ele estava certo. Até porque foi a primeira vez na vida que eu tomo uma cerveja com os fabricantes criadores, ao meio dia de uma quarta-feira em frente a um supermercado, com as pessoas passando apressadas. 

Provavelmente eles não lerão esse texto, mas se algum dia chegar até eles, segue daqui um grande abraço. Saúde!


Comentários

  1. Rapaz, depois de um texto desse você tinha que descobrir o endereço dos caras mandar pra eles para ganhar umas caixas da Praya. Você merece!

    ResponderExcluir
  2. E ainda deu dicas de revenda pra Heineken. Parabéns pela crônica. Nota zero por não ter tirado a foto. rsrsrs

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Rindo com o nome dos Blocos de Carnaval

Zerézima

Sábado no Supermercado