Plantas, Bichos, Gente e o DARF

Perdi, ou melhor, ganhei um bom tempo cuidando das plantas do pequeno jardim nesta manhã fria e levemente chuvosa de domingo (aproveitei e lavei o carro; tem gosto pra tudo, né não?). Há tempos li que, em algumas das milhares tradições orientais, proclama-se que as plantas enviam energias boas para quem cuida delas. Não só para a pessoa mas para o espaço em que estão. Uma espécie de reconhecimento e auto-proteção, afinal elas dependem do seu cuidador. Para além de místicas orientais, o verde e as flores só fazem bem. O mesmo pode-se dizer dos bichos que tem nossos afetos e cuidados.

Um amigo me disse que planta é coisa complicada. Para ampliar seu espaço vai eliminando pelas raízes as outras que podem atrapalhar seu desenvolvimento. Ou seja, seriam más. Não é bem assim. Há aspectos de sobrevivencia, mas é o contrário e há experimentos sobre isso, como narrado em um livro dos anos 70 chamado "A Vida Secreta das Plantas", que depois se converteu em um documentário com trilha sonora composta pelo Stevie Wonder, "Journey Through The Secret Life of Plants", de 1979.

Há curiosidades, quando se dedica a elas. Por exemplo, meu pé de Alfavaca andava bem ruizinho. Descobri que para recuperá-lo é necessário podar as sementes que crescem na ponta de todos os seus galhos. A explicação tem a ver com maternidade. A planta direciona todas as suas energias vitais para sua futura prole. Retirando as sementes periodicamente da ponta de seus galhos, as folhas se desenvolvem magnificamente. Assim procedi. Estaria eu fazendo algo errado com a perfumada que é um ótimo tempero? Espero que ela não esteja chateada comigo muito menos passe a emitir energias negativas, ao invés das positivas.

Enquanto cuidava delas, das plantas, pensava o quanto são diferentes entre si, visualmente. Diferente dos humanos. Apesar das singularidades e similaridades - não tem ninguém exatamente igual a outro e não sei como a natureza consegue essa proeza - o fato é que somos parecidos não idênticos, fisicamente. O que nos dá a dimensão de nossas diferenças são outras questões. Econômicas, culturais, forma de pensar, de sobreviver, de encarar a vida, as dificuldades e facilidades, etc. 

Vivendo em nosso mundo de rotinas, preocupações, trabalho e tantas outras demandas, nem paramos para imaginar que outras realidades existem no dia a dia de nossos semelhantes. Me lembrei - fato cada vez mais raro, a memória não anda lá essas coisas - de um documentário que me emocionou. Chama-se "Honeyland", de 2019, acho (não olhei no Google). Foi indicada simultaneamente ao Oscar de Melhor Documentário e Melhor Filme Estrangeiro. Conta a história de uma apicultora de 55 anos do interior da Macedônia, que mora em uma vila praticamente desabitada. Sua relação com seu trabalho e com sua mãe doente. Impossível não ter uma sensação ao mesmo tempo de distanciamento e proximidade com a vida difícil e quase solitária daquela senhorinha. Um mundo diferente do nosso mas que reforça essa teoria de diferenças e similaridades humanas.

Não estou bem certo se neste doc há referências sobre religiosidade por parte da apicultora macedônica, mas essa característica é uma das poucas que percebo perpassar por diferentes culturas, além da ligação com plantas e bichos (as abelhas que dependiam das flores e ela tinha um cão com quem dividia o mel recem colhido). Semana passada houve a festa do Dia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em seu Santuário aqui perto de casa, antigo Convento dos Padres Redentoristas. Participei da procissão acompanhando minha esposa, ela sim bem religiosa. No decorrer da caminhada observava aqueles que não participavam. Uns olhavam contritos, outros curiosos, ninguém indiferente a não ser alguns motoristas incomodados com a interrupção no trânsito.

Se com as plantas e as pessoas podemos demarcar de modos diferentes as características sejam visuais ou psicológicas, o que dizer dos bichos? De raças diferentes fica fácil. Pois bem, nessa procissão em determinado momento passamos em frente a uma casa com portão de garagem feito de grades. Nele, dois cães de estatura grande, brancos com pintas pretas, idênticos, estavam calmamente sentados observando o movimento. Mas havia um uivo insistente vindo do mesmo local. Um uivo que parecia de medo, insegurança. Respeitosamente fiz o sinal de cruz, saí da procissão, fui para a calçada e me aproximei do portão para ver se conseguia entender o que estava acontecendo. Descobri um terceiro cão igual aos dois, provavelmente irmão, escondido atrás de uma placa tremendo de medo da procissão. Tentei entender reações emocionais tão diferentes. Desisti e voltei a pedir as bençãos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Neste ponto devo confessar que essas impressões dominicais sobre plantas, bichos e pessoas são acidentais. Na verdade sentei em frente ao Notebook para imprimir o DARF (Documento de Arrecadação Fiscal) para pagar a segunda parcela do IRPF (Imposto de Renda Pessoa Física: isso não é coisa de Deus, acreditem). Hoje, 30 de junho, é a data de vencimento. Ou deveria ser. Descobri que, como o último dia do mês caiu no domingo, anteciparam dois dias. Vou ter de pagar com multa, provavelmente já entrando no cheque especial. Antigamente qualquer boleto com vencimento em fim de semana podia ser pago na segunda-feira. Sacanagem! O fato é que, por algum motivo que não descobri ainda, o diabo (epa!) do DARF não é gerado. Dá erro. E eu fico tentando gerar de diferentes formas. Enquanto isso, entre uma tentativa e outra, vou escrevendo essas linhas um tanto quanto mal amarradas. E simultaneamente ainda assisto a Eurocopa na TV! Se você, caro amigo ou amiga, chegou até aqui, minhas desculpas pela crônica meio confusa, para não dizer totalmente. Espero que já tenha pago seu Imposto de Renda. Ou melhor, torço para que não tenha absoluta nada a pagar. Aí é só se preocupar com seus bichinhos e plantas, caso os tenha.

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