Vestindo roxo no domingo

Hoje, ao entrar na missa dominical matinal, dei um leve sorriso e me lembrei de um fato que não tinha nada a ver. Uma notícia publicada pelo site UOL há mais de dez anos reportava o seguinte fato: "Caetano Veloso estaciona no Leblon". E tinha uma foto dele se distanciando do carro. Tal fato insignificante virar notícia foi o gatilho de uma das primeiras memes da Internet brasileira, sempre lembrado pelos gaiatos de plantão.

Hoje é o Segundo Domingo do Advento, principal momentos da Igreja, de preparo para o Natal. O Padre estava trajado com a cor representativa desta época, roxo. "A cor roxa é a cor do Advento, uma cor que não é para tristeza, mas nos chama à interiorização, reflexão e oração". Pois bem, ao me preparar para sair de casa, resolvi vestir uma camisa roxa, do mesmo tom do Advento. É claro que eu não me lembrava disso, mas ao entrar na igreja e me dar conta me perguntei se alguém ia reparar em tal fato: "olha, ele botou a cor do Advento, pra combinar".

Qual a ligação com aquela história do mano Cae? Nenhuma. A não ser tratar-se de fatos insignificantes que eu conectei não sei porque. Absolutamente ninguém reparou ou repararia tal fato. Mas achei legal estar trajado com a mesma cor de momento tão importante. 

Como eu não faço a comunhão (digamos que sou um católico incompleto, da mesma forma que fui evangélico na infância e espírita já na idade adulta), naquele momento foco em pensamentos aleatórios. Hoje me lembrei de antigos Natais.

Quando criança paupérrima, não deixávamos de ter a Árvore de Natal. Meu pai cortava um galho bem ramificado de goiabeira, tirávamos as folhas e cobríamos com algodão. A base era uma lata de leite em pó - encapada com um papel bonito - cheia de areia. Bolas coloridas e um pisca-pisca que ficava guardado o ano todo dava vida à nossa pequena sala. O frango assado feito em casa por minha mãe era o prato especial. Só dava pena ver meu pai passando a faca no pescoço da pobre coitada da galinha que na véspera estava ciscando tranquila no quintal. A noite anterior, do Natal, era na Igreja Batista, que tinha cantata e uma cerimônia especial.

Muitas décadas depois desenvovi o hábito de presentear amigos nesta época. Na tarde do dia 24 saía distribuindo garrafas de vinho para os mais chegados. Depois mudei. Passei a gravar CDs musicais personalizados, com capinhas especiais e tudo. Fazer coleções de músicas para amigos sempre foi um prazer. Atualmente as coisas andam mudadas. Não sei se por causa de hábitos desenvolvidos ao longo da pandemia, das redes sociais ou da situação econômica o fato é que o costume de um contato mais direto entre as pessoas não tem a mesma força de outrora. E seguem os cartões virtuais. E links para umas playlists...

Outra coisa que faço na missa nesse momento "livre" em que não faço a comunhão (espero que não haja maiores sanções por isso) é aproveitar para ler a reflexão do dia. Neste Segundo Domingo do Advento me chamou atenção o trecho em que a igreja de certa forma reforça sua opção preferencial pelos mais fragilizados e chama atenção: "Deus age e envia seu Messias, mas Deus também pede a nossa conversão e, muitas vezes, é nossa adesão ao pecado, através da solidariedade para com o opressor, nossa conformação à situação de injustiça, que favorece a não mudança dos dominadores".

Seja com mensagens via WhatsApp ou com abraços, que não percamos de vista nossa humanidade neste período e em todo o resto do ano que vem por aí. Quanto a mim, provavelmente não usarei roxo domingo que vem. Talvez verde. De esperança. Sobre o Caetano acabo de lembrar que ele tem uma linda música chamada "Trem das Cores", onde cita "a seda azul do papel que envolve a maçã". Mas na minha lembrança a cor daquele papel era roxa! Ou púrpura, um nome mais sofistacado para a mesma tonalidade.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Rindo com o nome dos Blocos de Carnaval

Amigo É Pra Essas Coisas

As lembranças e o agora