As agruras para ver um Beatle (ou: Let It Be...)

Meados deste ano que vai se findando. Meus filhos me avisam: o Paul vem aí! Respondo com decepção: não vai dar, as contas estão apertadas. Minha filha não se conforma. Tá brincando? É provavelmente a última chance de vermos um Beatle e esse sempre foi um dos seus sonhos que eu disse que iríamos cumprir. Bem, os ingressos até que não estavam exorbitantes sobretudo os mais baratos. Considerando que eu poderia comprar "meia idoso". E ainda dividiam. E as passagens? Estou no Norte Fluminense a uns 300 km do Maraca. A filha de novo: todo mês a empresa lança promoção de 50%, vamos ficar de olho.

Ingressos na mão, passagens compradas, chega dezembro. Aviso: as contas pioraram. Vou vender ingresso e passagem! Mais agruras. Mais insistencia dos filhos. Dane-se o Perú de Natal e o espumante do Reveillón, vamos ver o Beatle e apertar (mais) em outras coisas! Havia outra questão: minha esposa havia feito cirurgia e eu só iria se ela estivesse restabelecida. Tudo ok, embora ela realmente não tenha podido ir.

E lá fomos. Dia de expectativa. Beatles é referência em música, em vida, em história universal. Quem conhece as transformações de costumes ocorridas nos anos 60 do século passado sabe do que estou falando. E o Paul foi a figura agregadora que conseguiu manter o grupo junto, sobretudo depois de 1967. Falar o que mais do mais importante agrupamento musical de todos os tempos? Ver Paul ao vivo é - aos 45 minutos do segundo tempo, Paul tem 81 anos - de certa forma participar efetivamente da história de nosso tempo. Mas não é esse o fato principal. O mais importante é a emoção dividida com os 70 mil presentes cantando "Hey Jude", "Ob-La-Di, Ob-La-Da", "Let It Be", "Blackbird", etc etc. 

Logo na entrada se percebia a diversidade das faixas etárias: de crianças à pessoas já bem idosas com certa dificuldade de caminhar. Shows grandiosos como esse podem ser complicados tanto para adentrar ao estádio, como possíveis confusões no interior. Não foi o caso. Cadeira Superior Leste, Portão D. Tudo tranquilo. Show de "velhos" é bem melhor, brinquei com meus filhos. E assim foi ao longo de quase três horas de pura emoção.

Um cronista conhecido disse que o Paul inventou a auto-ajuda - ou uma espécie de "sagrado contemporâneo" - , quando compôs em 1970 a linda "Let It Be", uma referência à sua mãe que morreu de cancer quando ele era adolescente. Foi feita de forma automatica quando ele acordou e se lembrou do sonho que tivera. Em outro extremo, não são poucos os críticos que apontam McCartney como precusor do Heavy Metal através de "Helter Skelter", inserida no clássico Album Branco. Como vemos, a expressão "lenda viva" se aplica totalmente a este jovem de 81 anos que, ao final, se despediu com um até breve!

Até breve foi a expressão que utilizei quando saí do Maracanã em 1983, no show do Kiss, primeira vez que lá estive para um espetáculo musical, junto com meu irmão. Há exatos 40 anos depois, lá estava eu mais uma vez, agora cantando Na na na nananana, nannana, hey Jude...(repeat X number of times) junto dos filhos.

As contas continuam preocupantemente no vermelho mas, como diz aquele comercial, ver um Beatle ao vivo não tem preço. Mesmo quando pago em prestações. Let it be...

Comentários

  1. Não fui ao show mas imagino a emoção de ver Paul. Assisti pelo canal Disney Plus que passou o show do Maracanã ao vivo. Chorei ouvindo Let It Be. Foi lindo demais. Gostaria de ter estado lá. Ainda bem que seus filhos te incetivaram a não desistir. Fé em Deus que tudo se resolverá. Como voce disse, let it be!

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