Uma Crônica Sobre...

Nesta manhã recebi via WhatsApp um texto humorístico sobre a questão da idade. Uma das frases trazia o veredito de que envelhecer é um problema: quando você acha que já sabe de tudo, aí começa a esquecer. E, aproveitando o gancho de tantas mensagens, me perguntei se haveria vida inteligente antes do WhatsApp ou exatamente o contrário, se é que me faço entender.

Mas, além do humor, há verdades nestas sentenças telegráficas nos impostas pelo onipresente Smartphone. É que, quando finalmente resolvo me sentar em frente ao Notebook para escrever uma dessas crônicas esporádicas, já tenho várias ideias que foram se acumulando ao longo das semanas.

Ocorre que, neste sábado, quando fui cumprir essa não rotina eis que me vejo sem ideias. Desapareceram. Normalmente elas tem um formato padrão. Lembranças de fatos e vivencias que faço um link com algo do momento atual.

Já foi mais fácil e rápido escrever. Na Escola Técnica alguns amigos próximos tinham uma certa resistência a tal prática. Para eles era um problema as aulas de português reservadas para redação. Como sabiam de minha destreza, fruto do hábito voraz de leitura desde a mais tenra infância, recorriam a mim como solução imediata. Assim, teve períodos em que cheguei a fazer cinco diferentes redações em um período de uma hora sobre o mesmo tema! Tínhamos um livro específico para isso e íamos trocando sorrateiramente. À medida que eu terminava uma, já pegava outra. Em troca dos serviços prestados me pagavam um lanche na cantina, já que dinheiro sempre me faltou ao contrário da escrita. Pode-se dizer que havia aí um desvio de conduta de nossa parte. Mas quem não fez suas manobras no período estudantil que atire a primeira pedra.

Continuando meu périplo em volta desta tentativa de escrever uma crônica minimamente atrativa para meus meia dúzia de amigos de boa vontade, lembro-me da estratégia decretada por um escritor em frente à página em branco: "levante-se, faça outra coisa, retorne, tente outra vez". Ensinamento quase místico, mas também óbvio. Chega uma hora que você, prestes a desistir, levanta-se no automático e... vai ao banheiro! Bem, o tempo está seco e lembro que bebi pouca água. Pego um copo e vou à janela observar o céu de agosto. Devo dizer que este é um dos menos atrativos do ano para mim. Na planície os ventos sopram fortes neste mês típico. Chove pouco e a poeira fina espalha-se no ar. Para complicar queimadas pontuais espalham por longos quilômetros uma cinza fina que faz o céu ficar de um azul esmaecido, opaco. Não é animador escrever sobre o céu de agosto, se bem que este ano estou achando o panorama um pouco melhor, devido a alguns dias de nuvens e chuvas que deixam o panorama mais animador que o habitual. E tem uma sentença que diz que se você é incapaz de admirar agosto, não faz por merecer a primavera que chega no mês seguinte. Então tá. E agosto tem o Dia dos Pais, por coincidência amanhã ou hoje se você lê essas incosistentes linhas no domingo.

Volto ao Notebook. Minha pequena escrivaninha/escritório faz parte do "complexo" de convivencia na sala, dividida em ambientes delimitados pela imaginação de quem vê. Assim, de onde estou olho para a televisão desligada. O controle remoto está à mão. Resolvo desligar a caixinha JBL conectada ao Spotify do celular que estava reproduzindo uma das minhas dezenas de playlists temáticas que adoro fazer. A que estava tocando era uma de "Música Eletrônica Minimalista Ambiental", um conceito que eu mesmo batizei e que me serve nesses momentos em que tento me concentrar. Nada científico mas que para mim funciona como um leve ansiolítico.

Ligo a TV. Demora alguns segundos para conectar ao streaming e vai automaticamente para a Globo News. Já fui inimigo deste canal mas no momento não. Afinal existe a Jovem Pan que eu adoro odiar. O noticiário repercute a bomba que estourou ontem: comércio ilegal de jóias pertencentes ao estado feitas pelo estranho séquito que acompanhou o estranho ser que ocupou quatros do Planalto e atrasou nossas vidas em décadas. Bem, isso não rende crônica. Dá livros e mais livros. Escritos por historiadores, antropólogos, sociólogos, psiquiatras, humoristas e especialistas criminais. Como já sei de todos os detalhes - até que surjam outros - que poderão acabar por levar finalmente à prisão do inominável, desligo o aparelho.

Olho para a outra tela em minha frente e... nada!

Essa última palavra me fez lembrar, provavelmente pela minha incapacidade momentanea de ir à frente, de uma obra do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, "O Ser e o Nada". Apenas pelo título, não pela obra que eu não sou tão sem noção assim, de tentar discorrer sobre esse compêndio que eu mal compreendo. Mas vale a citação pescada na Internet: "De acordo com outras abordagens filosóficas, faz sentido considerarmos o nada como uma ideia, mas isso se trata de um conceito vazio, da mesma maneira que estivéssemos falando de um gênero sem indivíduos. Para alguns pensadores o problema do nada é inexistente: algo que não existe não pode ser pensado." ("Why Is There Something Rather Than Nothing? Questions From Great Philosophers" de Leszek Kolakowski, Londres: Penguin Books, 2008, 240 pp. Tradução de Rui Daniel Cunha). Bem, analisando de uma forma torta, então não estou tão mal assim. Até estar sem ideias pode ser uma ideia. Podem rir.

E rindo cito aquela tirada do Jerry Seinfeld, sobre sua famosa sitcom: "a melhor série sobre nada".

É fato que neste momento a tela não está mais vazia. Fui escrevendo ao longo desta última hora sobre a difuldade e meus movimentos para ver se saía alguma coisa e deu nessa confusa coleção de parágrafos quase aleatórios. Sinto pelos queridos que chegaram até aqui e peço desculpas. Vocês acabaram de ler uma pseudo crônica sobre nada! Bom final de semana!

Comentários

  1. kkkkkk Marquinho meu amigo só você pra fazer uma crônica sobre nada genial.

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  2. A crônica casual é um gênero literário bem típico brasileiro. Sempre foi destaque nos jornais brasileiros, onde surgiram geniais como Rubem Braga, Drummond, Luis Fernando Veríssimo, Fernando Sabino e tantos outros. Uma pena que esse estilo está perdendo espaço, como toda literatura. Parabéns!

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    1. Obrigado pelo comentário e pelas citações desses geniais escritores!

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  3. Olá. Interessante que vc fez foi várias minicronicas amarradas. Gostei do inominável!

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  4. Estava fazendo nada, quando achei sua crônica e li. Foi uma imersão no nada . Vc pediu desculpas, então devo concluir 'de nada'.👍

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