Ácido Hialurônico com Água Termal


Lembrei de uma música do Neguinho da Beija-Flor: "Domingo eu vou ao Maracanã...". É aquela que tornou famoso o refrão "Porque meu time bota pra ferver/e o nome dele são vocês que vão dizer...". A recordação veio a partir de outra obra, a do Vinicius de Moraes, que cita o sábado, "Dia da Criação", onde ele diz que "há a perspectiva do domingo/porque hoje é sábado".

Sem muitas perspectivas e sem Maracanã, fui sim, ao Supermercado. O que já foi algo interessante para mim, considerando as prateleiras de cervejas, vinhos, destilados e queijos. No entanto, os atuais preços de filme de terror - e consequentes carrinhos cada vez mais vazios - tornaram a incursão mercadológica a algo próximo a um martírio.

Mas o ponto não é esse. Deixe-me lhes contar. Antes, dei uma passada rápida na academia, provavelmente para aliviar a consciência, uma vez que fiz apenas alguns minutos de esteira e me mandei para as compras. Pois bem, estava trajando uma moderna camisa colorida dryfit da Nike, coisa de jovem. Um boné preto. Óculos escuros espelhados. Barba crescida. Cara de marrento. Estilo acadêmico não intelectual meia-idade, se é que me entendem.  

O amplo estacionamento fica no subsolo. Faróis acessos, desço a rampa. Está praticamente vazio àquela hora. Escolho uma vaga aleatoriamente e paro. Antes de desligar vejo lá na frente, próximo ao elevador de acesso, uma jovem com uniforme do supermercado me acenando. Abria os braços, gesticulava e apontava o chão. Fiquei sem entender. Será que tinha feito algo errado? Os faróis eu já tinha apagado, não havia nenhum carro próximo, havia estacionado dentro das quatro linhas. Porque diabos ela não parava de me chamar? Só havia um jeito. Baixei o freio, retornei a marcha para drive e segui lentamente. A medida que me aproximava os gestos diminuíram e passaram apenas a apontar uma marca no chão. 

A marca era um retângulo azul, onde no centro havia uma silhueta branca, lembrando um ser humano levemente curvado, colocando o braço direito nas costas e segurando, com a mão esquerda, o que se assemelhava a uma bengala! É isso mesmo, caros amigos e amigas. Estacionei no local, atendendo aos insistentes apelos da jovem. Saí incrédulo do carro. Olhei para ela. "Aqui é melhor para o senhor, pois é pertinho do elevador. Por isso eles colocaram as vagas de idosos aqui". Muito obrigado, respondi um tanto quanto desanimado. Ou melhor, totalmente desanimado. Para complicar ela correu e chamou o elevador pra mim. "Já está vindo". Fiquei com vontade de perguntar/exclamar: "pôxa, tá me achando com cara de velho?!"

Subindo, fiquei me perguntando como, a uma distancia razoável, pouca iluminação, dentro do carro, de óculos escuros, boné, camiseta de atleta, ela teve a certeza que ali estava um "idoso"? Conclusão óbvia. Pelo visto só eu não percebo que minha face está mais para 64 do que 34 anos. E não adianta usar muitos disfarces não. Só se eu passar a usar máscara de super-herói, de preferência que cubra o rosto todo, tipo Homem-Aranha. Mas aí troco o rótulo de idoso, pelo de doido. Acho que não é bom negócio. Acho.

Ao longo da semana passada um tema tomou conta das redes de fofocas sociais. Devem saber. O ator Stenio Garcia, 91 anos, fez aplicação de botox e harmonização facial, uma espécie de cirurgia plástica sem cirurgia, só com preenchimentos. Como não poderia deixa de ser, a rede não perdoou e virou meme. Por exemplo, que ficou com a cara da Monja Coen ou do Walter Mercado, aquele do "ligue já". 
(Pseudo)Psicólogos também deram o seu veredito: "ao sentir a aproximação do momento derradeiro, o humano tenta fugir e uma das saídas é investir no visual, buscando com isso uma fonte da juventude". O ator não ligou para os comentários. Acha que remoçou 15 anos e sua esposa ficou satisfeita. Mas alegou que o procedimento não foi para ficar bonito: 'fiz para voltar a trabalhar'. Realmente existe um preconceito chamado etarismo.

Alguns dias depois dos acontecimentos acima narrados, fui à Dermatologista. Juro que já estava marcado há semanas! Era a consulta anual para verificar as marcas que tenho: com pouca melanina, peguei excesso de sol na infancia e adolescencia, época que não havia informação, nem filtro solar. E, se houvesse, não teria dinheiro para comprar. A médica verificou que estava tudo ok e começou a escrever uma longa receita. Se está tudo bem, pra que isso tudo? Tirando o protetor solar obrigatório... "Pela manhã você vai aplicar Sérum Repair Hyalu B5 da La Roche-Posay, etc, etc." Epa, doutora! Nada contra, sem preconceito, mas eu não sou o Stênio Garcia! Tenho paciência pra isso não! Ela deu uma gargalhada. Me explicou que o objetivo era renovar a pele pois isso diminui a possibilidade de aparecimento de câncer para quem é propenso por causa das marcas. Ah, tá. Tudo bem.

Saí do consultório sem ainda estar convecido: vou usar só o filtro solar e pronto! Aí me lembrei do episódio no estacionamento. Definitivamente aquilo me afetou: fiz meia volta e fui comprar tudo que estava na receita, apesar dos preços desses produtos serem os olhos da cara!

Comentários

  1. Kkkkk Você ainda é jovem. Que crônica deliciosa!

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  2. Adoro ler, pena que publique tão pouco. Lembrou bem da questão do etarismo. No mais, muito engraçada.

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  3. Marquinho, ri muito com essa história. Tô na mesma fase Kkkk

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  4. Hahahah que crônica boa de ler!
    Pode ficar tranquilo que você tá melhor que muito xóvem, pai!
    E vamos de skin care 😅

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  5. A jovialidade tem q vir de dentro, o mais é só aparência! Tem jovens q são verdadeiros velhos, e vejo pessoas acima de sessenta transbordando alegria e vontade de viver!

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