Discos e Colares

Me programei para sair cedo hoje visando realizar um trabalho de divulgação que anda atrasado. No entanto o calor desértico de 50º à sombra (desconfio que no Saara tá mais tranquilo) me fez modificar as prioridades e optei por resolver outras questões online. Na sala. Debaixo de um ventilador de teto. Não recorri ao ar condicionado por questões óbvias, afinal não costumo ganhar de presente relógios de ouro da marca top suíça Chopard, muito menos chega via Sedex para minha esposa um colar de 16 milhões. Não tenho amigo ministro. Muito menos amigo árabe.

Influiu em minha decisão (já que tenho essa oportunidade de ficar em casa) o fato de amanhecer hoje com um chiado (zumbido) crônico que até hoje não consegui definir se são nos ouvidos ou no cérebro mesmo. Minha excelente Otorrinolaringologista  já me avisou que o fato de ter ligeira surdez por conta de música alta pode provocar o fato. Tenho uma teoria revolucionária complementar sobre o meu problema: quando o tempo vai mudar, muda a pressão atmosférica e aí já era. No entanto, nenhum Neurologista concordou comigo até agora. Sigo chiando.

Voltando a falar em relógio - enquanto não me chega um Chopard de ouro direto das Arábias - meu orgulho máximo é possuir um legítimo Casio G-Shock analógico/digital que resiste à 200 m debaixo d'água. Não que eu preciso disso. Meu recorde de mergulho na praia é de 2 metros. Só faltam 198 pra testar se ele aguenta mesmo. Na verdade ter um Casio é pura nostalgia lá dos anos 70/80.

E, falando em nostalgia, depois de longo e tenebroso inverno, quer dizer, solar verão, liguei o equipamento de som para ouvir alguns CDs e vinis enquanto trabalhava. Explico essa citação aparentemente sem maior importância na crônica. Sem bem que, nada do que estão lendo aqui tenha alguma importância para vocês, então agradeço a perda do vosso precioso tempo.

Ultimamente me rendi à facilidade de minhas dezenas de playlists temáticas no Spotify (sempre fui de fazer coleções musicais, da mesma forma que o personagem problemático do livro "Alta Fidelidade" do inglês Nick Hornby) que transmito via bluetooth para a pequenina caixa JBL. Curioso que tal hábito me faz lembrar as audições do radio valvulado marca General Electric (ou será SEMP?) lá pelos fins dos anos 60. Foi minha iniciação musical, ouvindo Beatles e Roberto Carlos nos programas da Radio Mundial e Tamoio do Rio. Acho que por isso comprei há alguns anos uma vitrola vintage que também é rádio e gravador K7 (acho que vocês não sabem o que é fita cassete). Mas ela não tem válvulas (também não sabem né?).

Lançar o som no ar da sala, seja vinil ou CD, mexer no objeto que gera o som, que é intangível, dá um prazer especial. Por outo lado o som digital que vem do celular lembra os antigos radinhos de pilha, em uma época em que elas nem eram alcalinas.

Enfim, ficaram esquecidos o equipamento Panasonic - que tenho há 30 anos e nunca deu problema - e os LP e discos digitais que hoje estou resgatando enquanto tento trabalhar online. Digo "tento" porque não era para eu estar escrevendo essas mal traçadas linhas agora. Mas, já que comecei...

A música tem um poder singular em nossos sentimentos. Pesquisadores só chegaram a conclusões parciais mas já usam os sons para benefício das pessoas. Por exemplo, cientistas da universidade de McGill, no Canadá, após analisarem mais de 400 estudos sobre música, concluíram que ela "aumenta a produção de imunoglobulina A e glóbulos brancos pelo corpo, responsáveis por atacar bactérias e outros organismos invasores. Além disso, escutar música reduz os níveis de cortisol (o hormônio do estresse) e aumenta os níveis de oxitocina" (o hormônio do bem-estar). Viram? Acompanho há muitos anos os estudos do Dr. Jeffrey Thompson - que além de Psiquiatra é músico - relativo às frequências sonoras e a ligação com as ondas cerebrais medidas Hz: Delta, Theta, Alfa, Beta e Gama.

Na prática, momentos musicais podem nos ajudar em momentos de ansiedade que andam presentes em quase todos, nestes tempos estranhos. A música também pode ser uma ponte entre o instante atual e nossa própria história de vida. Recordações conscientes e subconscientes ajudam a traçar uma linha de tempo que nos coloca em perspectiva: um olhar de cima em que concluímos que problemas, contratempos, preocupações, tristezas, são passageiros em nossa trajetória. É a canção do disco que acaba e logo começa outra, mais linda.

No entanto, caso você não tenha discos, nem Spotify, nem lembranças musicais e muito menos se liga nesse tema, não se preocupe. Sempre há a esperança de baterem em sua porta com um relógio suíço ou colar de presente das arábias.

Comentários

  1. Meu amigo, que bom ter notícias suas. Sua última crônica foi em novembro! Assim não dá. Tem de nos brindar com uma crônica semanal, pelo menos! Parabéns meu amigo!

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    1. Valeu Jefferson! Acabo de publicar mais uma. Dá uma olhada lá!

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  2. Esse caso do colar ilegal tá rendendo e vai causar muito mais. Mas nunca imaginei que renderia uma ótima crônica como essa! Kkkkk

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    1. Rs. É verdade. Tem situações em que temos de tirar algum humor, senão fica difícil;

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  3. Sempre dá certo quando o cronista se diverte escrevendo.

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  4. A pergunta que não quer calar:Quanto nos custou esse colar?Excelente crônica.Vc conseguiu correlacionar a vida cotidiana de um típico brasileiro, música e o mundo de luxo,desperdício e descaso com a realidade brasileira.

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  5. Poderia ficar por horas lendo suas crônicas, pai! Você é demais 💛

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  6. Bom domingo, Marquinhos! Ou o que resta dele! Obrigado por voltar a nos escrever. A ler as suas impressões!

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