Reflexões e lembranças a partir de um evento trágico

Minha filha e meu genro - ambos publicitários - tem uma empresa de produção audiovisual. Nesta semana, ainda em fase inicial de atividades, foram contratados para fazer a transmissão da live de uma excelente cantora.

Com o compromisso de apenas levar minha filha ao evento acabei ficando e servindo de apoio, auxiliar de serviços gerais. Tipo correr para buscar algum item que faltou na última hora. Ou ajeitar um refletor que o vento insistia em derrubar.

A participação nos bastidores me fez lembrar de quando, muito tempo atrás, eu e um amigo criamos uma das empresas pioneiras em filmagens de casamentos da cidade. Era a Panorama Televideo. Primórdios da "Era VHS", início dos anos 80.

Embora o ênfase comercial fosse o registro das núpcias de jovens apaixonados, aproveitava minha câmera para realizar pequenos documentários bem amadores. Lembro-me de certa manhã de domingo. Ouvi no radio que o Americano Futebol Clube iria realizar um amistoso contra a seleção da China que estava em tour pelo Brasil. Era 10 da manhã e corri para o estádio que ficava bem perto de minha casa. Entrei por uma porta lateral. Não havia ninguém nas arquibancadas. Apenas os locutores da cidade e da China nas cabines de rádio. Ao que parece o Americano foi contratado para uma espécie de jogo treino. Conectei o fone de ouvido do meu pequeno rádio de pilhas ao microfone da câmera. Assim tinha as imagens do jogo e a narração radiofônica. Sozinho registrei toda a histórica partida. Digo histórica pois não sei se o Americano jogou outras com outros países. Ok, era a China. Dos anos 80. Mas vieram de longe e era a seleção oficial. Aquela filmagem não existe mais. Perdi como tantas outras. Uma pena. Hoje seria um ótimo item a ser acrescentado ao acervo do clube. E acho que é a primeira vez que conto essa história. É que me cobro muito por não ter conservado isso e outras coisas. Um pequeno arrependimento.

"Arrependimento" que me leva de volta a esta semana e à transmissão da live. Passei boa parte do tempo olhando a atuação de minha filha e de meu genro, me vendo no lugar deles. Preocupados e empolgados com a responsabilidade profissional.

Mas em determinado momento uma coisa me desviou disso. Chamou a atenção o depoimento de um jovem empreendedor, digital influencer, que havia sido convidado para, com o seu exemplo, incentivar pessoas a lutar para realizar seus sonhos. Que era possível, tanto quanto ele vindo de um bairro periférico, ultrapassar as conhecidas barreiras sociais.

Não o conhecia mas quis parabeniza-lo por sua história e pela forma como ele, de forma simples, buscava influenciar os outros positivamente. Como naquele momento era eu que estava na "periferia" do evento, achei melhor não fazer nenhuma intervenção, até para não atrapalhar a concentração de todos. Poderia fazer isso no final, mas já estavam todos exaustos e só o que fiz foi ajudar a guardar os equipamentos e me despedir rapidamente.

Ontem, sábado, um jovem depois de exaustivo trabalho ao longo da semana, foi à tarde para uma bela lagoa existente nos arredores da cidade. Relaxar, dar uma volta de Jet Ski. Eis que o inimaginável acontece, um acidente com outro veículo aquático, nas águas calmas que guardavam um destino cruel: o jovem morreu. Era o mesmo da live, aquele que eu não havia parabenizado.

Mais um daqueles itens que nos comovem, que não conseguimos entender e que vão se avolumando à medida que nosso tempo vai passando. De forma trágica o tempo passou rápido demais para aquele rapaz. 

Deveria tê-lo cumprimentado. 

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