Minhas Gravações Musicais

Rob Fleming, protagonista do romance "High Fidelity" (que foi muito bem adaptado para o cinema por Stephen Frears, com John Cusack no papel principal) do inglês Nick Hornby, tem duas manias, fazer listas tipo "cinco mais" e gravar fitas cassete para os amigos contendo suas músicas preferidas.
Dono de uma decadente loja de discos de vinil e com problemas nos relacionamentos amorosos, nas listas de Rob entra tudo: os cinco maiores foras que já levou das namoradas; os cinco melhores episódios das séries que acompanhou; os cinco melhores filmes; os cinco melhores discos, etc.
Não estou nesse time de "top five". Já no outro quesito, de gravar músicas para os amigos, é um saudável hábito que me acompanha há uns 35 anos, mais ou menos.
No começo eram as fitas cassete, igual ao Rob. Jovens nem devem saber o que são fitas K7, mas eu ainda as tenho, juro. Eram registros feitos em aparelho tipo 3 em 1, do disco de vinil ou do rádio FM, direto para as fitinhas. Exigiam tempo e dedicação.
Depois veio a era do Compact Disc, as fitas sumiram mas logo foi possível gravar CDs no computador e eu aderi imediatamente. Sofistiquei: fazia capinhas personalizadas que muitas vezes eram mais artísticas que muitas oficiais. E a qualidade de som também. Não é falta de modéstia mas é que as boas músicas (e os amigos) mereciam o melhor. Sobre direitos autorais, as cópias eram dos meus discos oficiais e serviam como divulgação para artistas pouco conhecidos. Mas isso realmente ficou para trás com a Internet e o formato de arquivos mp3. Começou então a minha era dos Pen Drives, disputados por amigos porque eu conseguia resgatar raras músicas quase esquecidas lá dos anos 60, 70 e 80.
Passaram alguns anos e lá vem outra revolução, a música disponível em Streaming. Com um Smartphone se tem acesso a boa parte das milhões de música já feitas. Aderi sem abrir mão, obviamente, dos meus LPs e CDs. Mas e as minhas tão amadas gravações para os amigos, já que estão dispensados K7, CDs e Pen Drives?
Atualmente faço e refaço dezenas de playlists temáticas - verdadeiros works in progress - e repasso muitas delas para amigos e grupos do WhatsApp. Eventualmente atendo a pedidos específicos dos que recorrem a mim porque sou considerado uma "enciclopédia musical" e conheço tudo dos últimos 50 anos. Também sou convocado para preparar listas para festas diversas. De festa junina a aniversário de cachorro. E lá vou eu para o Spotify, Deezer, Google Play Música, etc.
O problema é que ficou fácil demais. Rapidamente seleciono 100 ou mais músicas e já repasso. Falta a emoção de procurar aquela música no mundo virtual ou na minha coleção. Falta o suporte físico, que funcionava como um presente palpável. Sobra, no entanto, a alegria de atender as demandas de pessoas que, como eu, veneram a música como uma das expressões máximas das emoções.
Mas é fato que, no fundo, eu estou é com aquela nostalgia que bate de vez em quando de bons tempos passados. Fato esse que me deixa com outra semelhança com o complicado personagem Rob Fleming de "Alta Fidelidade", o que, afinal, não considero como sendo algo tão negativo assim.

Comentários

  1. Adoro seus textos Marcos. E adoro música também. Vou te pedir uma playlist tá? :)

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