Phil Collins e seu suave caminhar de bengala

Tenho lido menos livros do que gostaria. Há vários nas estantes aguardando seu momento. Ultimamente tem me atraído autobiografias de artistas da música. Esses dias me questionei porque esse direcionamento uma vez que minha preferência sempre foi por obras de ficção.
Acredito que por trás disso há uma questão existencial: essas confissões escritas sempre trazem à tona a velha questão dos sentidos da vida. Ou, porque aconteceu isso desta forma e não aquilo de outra forma? Sobretudo desses astros acima dos 60. Acho que ninguém escreve autobiografia antes dos cinquenta né!? A não ser que, de forma muito otimista, coloque como complemento o subtítulo "Volume 1"!
Acidentalmente descobri que o baterista, cantor e compositor Phil Collins escreveu em 2015 uma obra chamada "Ainda Estou Vivo – Uma Autobiografia" ("Not Dead Yet: The Autobiography", no original). Foi lançado no Brasil ano passado pela Best-Seller. Não li ainda. Apenas resenhas e trechos - mas já encomendei.
Phil está entre os poucos que venderam ao longo da carreira mais de 100 milhões de discos. Primeiro como baterista (e depois vocalista com a saída do titular Peter Gabriel) do magnífico grupo de Rock Progressivo Genesis. Depois, se reinventando, como cantor Pop de imenso sucesso.
Completa 50 anos de carreira em 2019.
Falei que descobri que ele havia lançado sua autobiografia mas antes disso achei um vídeo que me impactou.
O fato é que, sem perceber, acho que estou acompanhando a carreira do músico que admiro no momento presente mas, na verdade, parei lá nos 70, no máximo primeira metade dos anos 80. Só eventualmente me conecto com alguns deles na atualidade, como foi o caso do emocionante e inesquecível show do Roger Waters (Pink Floyd) que vi ano passado no Maracanã.
Assim, a imagem que tenho deles na mente é a vivacidade daqueles tempos já que minha principal referencia de presente são os aparentemente imortais Rolling Stones. Mas o tempo passa para todos.
Estava procurando uma interpretação do Phil ao vivo da música "Against All Odds", também conhecida como "Take Look Me Now", que foi tema de um filme que recebeu o título no Brasil de "Paixões Violentas", de 1984.
Ao digitar no Notebook fui direcionado para uma apresentação na Austrália, feita em janeiro de 2019. Portanto, um mês apenas! Não sabia que ele estava em tour. Aliás para mim ele andava recolhido por muito tempo. Há mais de dez anos, para ser mais preciso. O nome da tournée recebeu o título "Not Dead Yet” (“Ainda não estou morto”) e está rodando o mundo desde o ano passado, sem datas para o Brasil até o momento.
Registrado da platéia mas com boa qualidade, foi a primeira música do show e mostra ele entrando no palco. Aí que está. Levei um susto.
Um quase velhinho entrando no palco apoiado em uma bengala. Agradece e caminha lentamente até a cadeira colocada ali onde ele permaneceria durante a apresentação. A linda música permanece sendo interpretada de forma bela, mas a voz sofreu a influência do tempo, da mesma forma que seu caminhar e suas feições. Mas continua com seu bom humor.
O que teria acontecido, além da passagem do tempo? Como o livro não chegou ainda, fui pesquisar. Com sérios problemas na coluna submeteu-se a uma cirurgia em 2015 e ainda sofre sequelas dessa operação. Mas não é só isso. Em uma das resenhas que li é possível encontrarmos algumas respostas (as outras só saberei quando ler o livro): "Phil Collins acreditou um dia que era indestrutível. Só que descobriu que era somente mais um astro do rock à beira da decadência, doente e em busca de redenção – ou da autodestruição. O cantor e ex-baterista do Genesis entrou com louvor na galeria das personalidades despidas de pudor ou vergonha em sua autobiografia. Possivelmente encorajado pelo amigo Eric Clapton, abriu o jogo no livro "Not Dead Yet" e mostrou a face sombria do alcoolismo, da depressão e do desespero" (Marcelo Moreira em "Phil Collins fica em paz com seus demônios e conta sua redenção em livro").
Já escrevi aqui uma vez que de repente descobri que meus ídolos musicais não eram imortais, envelheciam e acabavam. Foi em "As últimas viagens dos meus ídolos do Rock".
Phil Collins que me emocionou tanto com suas intervenções no Genesis e suas lindas canções, me emocionou agora com esse momento no palco e vai me emocionar com sua autobiografia.
Sonhava com uma reunião comemorativa do Genesis, mas acho que vai ser difícil né Phil? Tudo bem. Continuarei ouvindo suas obras até o fim dos nossos tempos.







Comentários

  1. E aí meu camarada? Sou difícil de me emocionar mas vendo o querido Phil e o seu texto magnífico foi difícil conter as lágrimas. O fato é que estamos todos de nossa geração indo pras dificuldades da velhice. Mas não vamos ficar velhos! Viva o Phil Collins que com todos os problemas está no palco. Vou ler o livro. Valeu Marquinhos Metamúsica, meu ídolo!

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    1. Sim Jonas. O Phil é um grande exemplo de artista e pessoa. Obrigado pela participação. Grande abraço!

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  2. Que coisa! É lindo vê-lo no palco, cantando essa música, se superando. Por outro lado fiquei triste, abalada. Também me lembrava do Phil agitado do Genesis. Isso nos faz lembrar da impermanência de tudo. Não somos eternos. O livro deve ser muito bom. E suas crônicas sempre agradáveis e emocionantes. Obrigada. Bjs.

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    1. Oi M.I.A.
      Valeu por estar presente aqui no blog e por suas considerações;
      Grande abraço!

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  3. Parabéns pelo belo texto, Marcos!! Uma matéria sensível e emocionante que mexe com questões de todos nós! Também gostaria de ler o livro autobiográfico do Phil Collins ! Desde sempre, curto muito suas músicas!!
    Obrigada! Abs

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    1. Obrigado amiga.
      Suas palavras são de incentivos e tão sensíveis quanto as canções do Phil.
      Grande abraço!

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  4. Oi Xará! O "Tempo e o Vento" nos fizeram ficar muito distantes. E, infelizmente, não vejo mais como mudar esse status quo. No entanto, embora eu não tenha feito mais nenhum comentário aqui, sempre que posso, venho visitar e compartilhar de suas emoções. E sempre foi uma grande emoção estar aqui. Bem, o grupo Genesis para mim, hoje é um mito. Foi o primeiro vinil que adquiri, e foi exatamente pela belíssima interpretação de Phil na música "Ripples", vista num breve comercial de TV na ocasião em que eles estiveram aqui, pela primeira vez. Pessoas-artistas, muito sensíveis, que veem o mundo de forma diferente, ou incomum, que vivem e vivem, e vivem... sofrem e sofrem... e percebem as areias de seus sonhos se despedindo lenta ou bruscamente, bem como os traços do Tempo a redesenharem seus corpos e mentes, me parecem que se encontram, talvez como no Phil, na esfera do "Against All Odds". Obrigado pelas emoções mais uma vez sentidas aqui. Abraçãozão. ME

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    1. O tempo e o vento separam mas reúnem também. Obrigado por sua presença aqui bem como por suas emocionantes palavras e suas colocações.
      Seja sempre bem-vindo. Um frande abraço!

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