Olha pro céu!

Na serra tenho saudades do mar. No mar, saudades da serra.
Se chove sinto falta do sol. Muito sol, saudades do frio e da chuva.
Algum poeta deve ter escrito isso.
Ou deveria pois não sou poeta.
Dia 11 de julho, região Sudeste.
Não é comum registrarmos menos de 16º C, mesmo no Inverno.
Ao acordar, por volta das 06:30 h, ouvi a chuva e senti o frio cortante. Na verdade não senti. Imaginei. Ou, melhor ainda, me lembrei das intermináveis madrugadas no trabalho.
No início, lá pelos anos 80, solitárias noites viradas à 90 km da costa, um oceano escuro de onde vinha um vento gelado, estruturas de ferro à minha volta, luzes amarelas e vermelhas indicando o caminho de fuga em caso de emergência.
Nas minhas emoções a urgência era sair dali em direção ao aconchego do lar, por mais heroicas e gratificantes fossem as atividades em alto mar naquele tempo.
Anos depois as madrugadas frias eram marcadas pelo acordar às 4:30 h, sair do acolhimento para o escuro chuvoso de ruas ainda desertas. Pegar o ônibus para trabalhar diariamente à 100 Km de casa, rotina que perdurou por mais de 25 anos.
Hoje levantei e fui até a janela. No céu nuvens de grande altitude, tipicas da estação. Eram indicadoras da temperatura baixa, segundo meteorologistas.
Fiquei por longos minutos olhando o céu cinza de diferentes matizes.
Não tinha o hábito de olhar o céu. Sobretudo quando sua coloração é apenas o meio termo entre o preto e o branco, sem aquele azul brilhante. Mas estava especialmente belo. Admira-lo foram como instantes de meditação. Aquilo que faz bem à alma.
Acho que a maioria das pessoas pouco olham para cima, tão corridos os dias.
Hoje tenho tempo de olhar para o céu e o dia frio e nublado adquiriu um significado especial.
Tenho tempo inclusive de escrever impressões evanescentes como estas que não devem interessar a quase ninguém.
Mas que sirva pelo menos para um conselho, independente da luta diária de cada um. Para isso me sirvo do título do primeiro romance do campista José Cândido de Carvalho - imortal da Academia Brasileira de Letras - publicado em 1939: "Olha pro céu, Frederico!" (ou qualquer que seja seu nome). Era uma frase que um padre repetia ao latifundiário, exortando-o a se aproximar mais dos aspectos espirituais.
Olhar pro céu também nos faz mais conectados com Deus. Com sol e azul brilhante ou com nuvens cinzentas e frias.

Comentários

  1. Boa tarde Marcos!
    Adoro seu estilo tão pessoal de escrever. Parece que está conversando conosco.
    E sobre assuntos que consideraríamos banais, do dia a dia, sem importância, não fosse sua forma de passar as impressões.
    Eu não perco meu tempo olhando para o céu em um dia frio e chuvoso. Mas fui olhar depois que li seu texto e tive a mesma sensação que narrou. Obrigada! Um pedido, não demore muito a escrever de novo!

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    1. Obrigado Lúcia!
      Realmente preciso criar uma rotina pra postar pelo menos um texto por semana.
      Bjs

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  2. Ivany:
    "Atualmente só gosto de temperaturas amenas ou frio, mas meu prazer atual é caminhar, seja na praia ou montanha. Sinto falta dessa sensação de liberdade, que tenho ao andar "sem lenço, sem documento". Somente eu e meus pensamentos. Me dá paz, vou captando e absorvendo só coisas boas: o barulho da água, dos pássaros, cato mudas, dou umas corridinhas com Luna e volto para casa leve e muito mais feliz. Nem a chuva me incomoda.
    Desculpe aí, primo! É que seu ótimo texto, acionou o meu modo "o que eu quero: sossego"; " a paz que eu gosto de ter"; "eu caçador de mim". E assim vou, "caminhando e cantando", apesar do triste panorama político/social do nosso país, e de tantas mazelas, tentando viver saudável e feliz. 😘"

    (Comentário sobre o texto retirado de grupo do WhatsApp)

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  3. Particularmente adoro dias chuvosos,para viajar,criar,desenhar,namorar...Um ceu cinzento também tem sua beleza,assim como o azul,alaranjado,estrelado,etc.Eu adoro olhar pro céu.Grande abraço.

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    1. Que ótimo! Parabéns! E um hábito que as pessoas urbanas, em sua maioria, não tem mais, como era (ou ainda é) no interior. E o céu é sempre tão lindo! Abraço e obrigado pelo comentário.

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