Dos livros de bolso de Estefania às leituras de verão

Estefânia é um bonito nome feminino, raro. Já Estefanía é um sobrenome espanhol. Com certeza poucos leitores conhecerão alguém assim batizado. Eu já, por causa do Marcial Lafuente Estafanía. Ficaram na mesma?
Pouco dinheiro na mão costuma ser a tônica dominante de ávidos leitores adolescentes dos subúrbios. Era o meu caso, lá pelos anos 70. Mas havia uma escapatória: os estabelecimentos que vendiam livros usados, conhecidos como "sebos". Sobretudo livros usados que já eram baratos quando novos, nas bancas de jornal. Era o caso dos "livros de bolso" (Pulp Fiction) de faroeste. Esses tinham um mestre: o escritor madrilenho citado acima, que publicava como M.L. Estefania. Escreveu quase três mil dessas histórias, até falecer em 1984, aos 81 anos.
Mas nem só de faroeste eu sobrevivia, pois havia séries de espionagem, policiais, ficção científica, romance e até eróticas e de terror (ou tudo isso junto...).
Um sucesso na época foi a série "Giselle Montfort, a espiã nua que abalou Paris" escrita - de forma não creditada - pelo jornalista brasileiro David Nasser no antigo jornal "Diário da Noite" (da empresa Diários Associados) de Assis Chauteaubriand, a partir de 1948 em forma de folhetim e depois publicada como série de bolso pela editora espanhola Monterey, nos anos 60, chegando até a década posterior.
Está aí, além dos gibis é claro (ou HQs de super-heróis que estão dando origem a tantos filmes de sucesso atualmente), a minha iniciação como ávido leitor que permanece até hoje, embora tenha me afastado dos livros por causa do incessante e cansativo trabalho.
Aos poucos volto às origens. Não falo dos livros de bolso mas do bom hábito da leitura que, segundo estudiosos, além do prazer das viagens proporcionadas pelos mesmos, o hábito previne até o Mal de Alzheimer.
Neste verão - que para mim vai se estender até o início de abril - tive como meta ler cinco livros na minha "estação de veraneio", com algumas restrições, como não levar publicações para as areias da praia (cumpri até agora, mas tenho dúvidas se foi uma boa ideia).
Um costume que adquiri foi o de ler sempre com um fundo musical: escolho antes os CDs, de acordo com o livro. Mergulho na leitura mas os agradáveis e suaves sons sempre presentes enriquecem o momento.
De forma não programada acabei optando por livros de não-ficção e a maioria relacionados à música, o que não chega ser uma surpresa. Ficaram então de fora livros do Arthur C. Clarke, que trouxe mas não coloquei a mão. Ou os olhos. E um outro documento que precisa de mais dedicação em sua leitura: "Os Bispos Católicos e a Ditadura Militar Brasileira: A Visão da Espionagem" do historiador Paulo César Gomes.
Das leituras realizadas me surpreendi com "50 fatos que mudaram a história do Rock" (edição ilustrada) de Paolo Hewitt. Não que concorde com ele nos itens selecionados, mas realmente alguns detalhes trágicos que descreve eu não sabia, como o assassinato do soul man Sam Cooke e os fatos que que levaram ao "massacre da atriz Sharon Tate" (então esposa do cineasta Roman Polanski) em 1969 e da relação disso com o seminal grupo de surf-music The Beach Boys. O massacre comandando pela "seita" de Charles Manson (até hoje preso) não foi bem por questões pseudo-religiosas: Manson tinha interesse em se tornar um superastro da música, daí... Leiam o livro pois é uma longa história.
Outro interessante que fez parte do verão foi "Blues" do francês Gérard Herzhafat. Nele um mergulho não só na música, mas no mundo difícil dos negros americanos no início do século XX, que geraram essa música-lamento bem como tudo que veio depois, influenciado pelo Blues: do Rock ao Pop, passando pelo Jazz.
O terceiro livro tem o mesmo nome do segundo, mas trata-se de reprodução de histórias em quadrinhos - criadas também dos anos 1970 - pelo genial (e marginalizado) Robert Crumb, onde ele conta a história de bluesmen dos anos 20 e 30, com uma forte carga dramática e social. Não era para ser diferente.
Restam dois que pretendo "devorar" até o final do mês, começando hoje.
O primeiro é "Os Guinle - A História de uma Dinastia", do historiador Clóvis Bulcão, um profundo mergulho nas raízes e desenvolvimento dessa família aristocrática carioca. Mais conhecida pela associação com o lendário hotel Copacabana Palace e com as conquistas amorosas de famosas atrizes de Hollywood feitas pelo playboy Jorginho Guinle, a família não é apenas isso. Segundo o autor, o glamouroso estilo de vida ofuscou o empreendedorismo visionário dos patriarcas e de seus sete filhos.
Por último, um livro de 2002 que só agora adquiri - em sua 9ª edição, de 2015.
Voltando aos temas musicais, trata-se do surpreendente "Eu Não Sou Cachorro, Não: Música Popular Cafona e Ditadura Militar", do jornalista e historiador Paulo César Araújo (o mesmo da biografia proibida de Roberto Carlos). Com certeza este livro vai merecer uma resenha à parte. Além de contar a história da música brega do período 1968 - 1978 o autor prova que "um importante capítulo da história do Brasil e da música popular vem sendo muito mal contada".
Independente do sucesso da polêmica empreitada, com certeza vou gostar do que for contado pois - vai aqui uma confissão -  além de Jazz, Blues, Rock e MPB mais "intelectual" (e nas diversas vertentes desses estilos), fui fã de nomes como Fernando Mendes, José Augusto, Odair José, Paulo Sérgio, etc. Isso enquanto lia os livros de bolso do Estefania. Mas não contem pra ninguém, ok?!

Trilha sonora enquanto escrevia estas mal traçadas linhas: Não foi ...aquela menina em sua "Cadeira de Rodas" de Fernando Mendes, mas o CD "Spark Of Life" do Marcin Wasilewski Trio w/ Joakim Milder, da ótima gravadora alemã ECM Recods,




Comentários

  1. Marquinho, sempre fico feliz quando publica algo: você sempre consegue me surpreender com seus comentários, sempre de agradável leitura, desde os tempos do seu inesquecível Jornal Metamúsica!
    Parabéns, abração e poste mais vezes!!

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  2. Excelente texto!

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  3. Adorei! Como sempre!
    Beijos!

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  4. Obrigado amigos pelos comentários!
    Abraços!

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