As Retrospectivas e o Futuro pós Ano Novo

"Ceia", óleo sobre tela de Cláudio Dantas
O Natal é legal.
Pelo significado que traz, pela oportunidade de reunir a família, etc. etc. etc. e blah, blah, blah...
Mas tem uma coisa complicada: no mesmo tempo a alegria do momento e a tristeza da lembrança dos que se foram e não participam mais desta celebração de união.
Sofre mais quem perdeu entes queridos importantes e que são mais sensíveis ao sentimento de perda e de saudade.
Nesses casos vale muito a fé em algo além dessa nossa passagem por essas paragens, até mesmo porque todo mundo vai embora um dia.
Mas convenhamos que essa mistura de alegria e nostalgia é no mínimo complexa. Ainda bem que tem o vinho. Ou cerveja bem gelada, se estiver muito calor.
E logo depois vem o Ano Novo.
Reveillon, festa, fogos, gente, roupa nova, espumantes, esperança e alegria por um novo período que se anuncia.
Mais ou menos.
Não me acusem de estraga prazeres ou provocador de depressões.
Sou um pouco ansioso, eventualmente silencioso (desconfio que quem gosta muito de escrever tende a falar menos) mas não mal-humorado e pessimista. E gosto de Natal e Reveillon.
Mas teorizo que a necessidade da festa de Ano Novo se presta a esconder uma incomoda sensação da celeridade da vida, da impossibilidade de parar o tempo, da incapacidade de evitarmos acontecimentos que nos tragam sofrimento, do medo do desconhecido, da impossibilidade de mantermos infinitamente a nossa zona de conforto, etc.
É claro que posso estar 110% errado. O que seria ótimo. Mas confesso que no momento dos fogos, pelo menos por três segundos, essa idéia me assola.
Ainda bem que são só três segundos. Depois é admirar o momento do pipocar das luzes, abraçar os queridos, virar a taça de Prosecco (chique!) e molhar os pés na água do mar, ao mesmo tempo que se faz uma oração. É bom se garantir, na medida do possível.
Nesta linha de raciocínio e ação, estrategicamente não vejo mais as diversas "retrospectivas do ano".
Primeiro porque tendem a ser tendenciosas.
Depois pelo motivo de nos lembrarem quanta gente boa morreu (entre atores, músicos, etc.) no período.
De minha parte incomoda por causa do motivo já citado e porque sou particularmente fã das músicas e dos músicos das décadas de 1960 e 1970.
Acontece que esse pessoal atualmente está ultrapassando a barreira dos 70 anos e são sobreviventes (em boa parte) do LSD, da Heroína, do álcool, enfim, sobreviventes das loucas décadas citadas. Muitos se foram com menos de 50 ou até menos de 30 (Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison).
E nem sempre esses sobreviventes chegam bem a uma idade mais avançada. A perspectiva de vida de rockstars é menor que a média da população.
Daí que todo ano tem uns daquela época que se vão. E isso não me agrada.
Em uma rápida retrospectiva mental de 2014 me lembrei de alguns que foram fazer jam sessions no céu: Jack Bruce (Cream), Johnny Winter (o albino guitar hero), Tommy Ramone (Ramones), Phil Everly (Everly Brothers), Bobby Womack (grande cantor), Jimi Jamison (do Survivor, de "Burning Heart"), Paco de Lucia (o grande violonista), Bob Casale (do Devo), Joe Cocker (o insuperável).
No Brasil, Jair Rodrigues, Vange Leonel, Miltinho, Nelson Ned e outros. Bem esses não são "sobreviventes" daquela época que falei.
Viram? Nada de retrospectiva este ano!
E a música trilha-sonora desta pseudocrônica é a incrível versão soul que Joe Cocker fez de "With a Little Help From My Friends", uma das poucas na história que conseguiram superar as sempre insuperáveis versões definitivas dos Beatles de suas próprias composições.

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