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O Comediante

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O início de minha carreira profissional foi literalmente a céu e mar abertos. Em plataformas marítimas de exploração de petróleo, a mais de 100 km do litoral. Depois de longo tempo o panorama mudou completamente e passei a ver a natureza só pela janela lateral do escritório. De cara para um computador a maior parte do dia, da semana, do mês, dos anos. Mas dei muita sorte. Éramos uma dúzia de amigos, não apenas colegas de trabalho. E a marca registrada era o bom humor, além do apoio mútuo. Imagine passar 8 horas do seu dia em um ambiente que não lhe agrada muito. Não era esse o caso, pelo contrário. Felizmente. Falei do bom humor da equipe e isso é fundamental para um trabalho produtivo e criativo. Eventualmente parecia que estávamos de volta a quinta série, com aquelas piadinhas e brincadeiras típicas. De todos, um se destacava por sua agilidade em criar situações engraçadas, comentários irônicos pertinentes, rápidas sacadas, capacidade de agregar as pessoas. Vivia sacaneando todo mund...

Também estou por aqui

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Tinha 8 anos na primeira vez que fui ao cinema. Era 1968, do fatídico AI-5, embora eu não fizesse ideia do que estava acontecendo. O Cine-Theatro Campo Grande, com arquitetura Art Déco e 1.400 lugares, ficava em frente a linha ferroviária Central do Brasil, cuja grande estação final ficaria internacionalmente famosa com o filme do Walter Salles de 1998. Inaugurado em 1938, fechou as portas em 1994. Parece que o governo instalou ali um restaurante popular, destino bem mais nobre do que uma IURD, como tem sido com os grandes cinemas de rua. O filme era uma das versões cinematográficas - em preto e branco - da Paixão de Cristo. Naquele tempo era frequentador assíduo das escolas dominicais da Igreja Batista, seguindo o exemplo e a recomendação de minha mãe. Assim, havia o incentivo familiar para essa estréia. Desde essa primeira vez (e provavelmente por causa dela) nunca me empolguei em ver outras produções relacionadas com o sofrimento imposto a JC. Por sorte era uma seção dupla e o outro...

Óculos

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Alô! Oi querida, tudo bem? Soube do absurdo. Esse seu cunhado é um idiota! Saiu com a maior ignorância com o pessoal que estava no churrasco por causa de uma besteira. Nem sei direito o que estavam falando mas ele alteou a voz e saiu reclamando. Pior que na hora de dividir ele já tinha ido embora. Muito esperto. A única coisa que contribuiu foi com aquela cerveja ruim que ele levou. Tenho pena da mulher dele. Se bem que ela também não é grande coisa não. Ainda bem que seu marido não é igual a ele. Hein? É mesmo? Mentira... E vc fez o que? (...) Terça-feira de manhã. Consulta com o oftalmologista.  Comecei a usar óculos nos anos 80. Provavelmente já tinha problemas na vista quando criança, mas a condição social era impeditiva para cuidar disso. O lado positivo é que me livrei do clássico apelido "quatro olhos", tão comum nas escolas públicas da época. Mas é fato que posso usar o depoimento do Herbert Viana: eu não nasci de óculos / eu não era assim. Até tentei usar lentes de c...

A Vida dos Outros

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Um dos nossos maiores interesses é saber sobre a vida dos outros. Não tem ironia nesta sentença. É a pura verdade. Ora direis, "eu não!". Então tá. Me engana que eu gosto (essa frase parece nome de bloco carnavalesco carioca). Ok, vc não vive bisbilhotando a vida do vizinho nem de seu colega de profissão nem daquele parente chato, até acredito. Mas vamos ampliar a visão. Porque assistimos séries,  filmes e novelas? Basicamente os temas predominantes nessas produções de lazer são... a vida dos outros! Né não? E digo mais, quanto mais problemáticas mais atraem a atenção. Até uma agradável comédia romântica só evolui se tiver muitas situações complicadas antes de um final feliz. "Ah tá, mas aí é ficção". Sim. Mas chega alguém pra te contar uma história cabeluda de um conhecido pra ver se vc não vai ficar atento(a)... E tem mais. Os telejornais só dão audiência se pelo menos 50% dos casos noticiados forem de problemas diversos. É o que dá ibope. Eu sempre fui um leitor ...

O Fim de Ano e Roberto Carlos: Ainda Estou Aqui!

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É impressão minha ou 2024 passou rápido demais? Em uma cena de um dos desenhos "A Era do Gelo" o engraçado esquilo que vive perseguindo uma noz vai parar no centro da terra onde tem uma esfera que controla a estabilidade do planeta. Ao girar acidentalmente essa grande bola, acaba provocando um imenso cataclisma que foi a origem da divisão dos continentes. Fico pensando na possibilidade de algo assim ter acontecido este ano mas, ao invés de terremotos e maremotos, de forma imperceptível fez com que a terra girasse mais rápido. Dias menores, ano menor.  Óbvio que o que acontece é que temos muitos afazeres, muita informação, muito trânsito, muitas preocupações, muito WhatsApp. A percepção da passagem do tempo fica comprometida. Não é a mesma de alguém dos anos 1960, por exemplo. Cito esse período específico porque eu estive lá, acreditem. A infância era pobre mas tínhamos nossa Árvore de Natal. Saíamos eu, meu pai e meu irmão pela mata próxima procurando um bom galho que tivesse...

Geriatra

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Sempre ouvi um comentário clássico. Um que trata de uma especialidade médica. Na realidade uma recomendação. "Quando fizer 60 anos, vá ao geriatra". O sujeito nasce e ao longo da infância e adolescência ele bate ponto no pediatra escolhido pelos pais. Depois, adulto, é o clínico geral que o acolhe. Na sequência, já sabem... Segundo a Inteligencia Artificial que me apareceu aqui no Notebook a palavra pediatra tem origem no grego e é composta pelas palavras paidos (criança) e iatreia (processo de cura). Já geriatra vem de geron, que significa "velho", e iatros, que significa "médico". Literalmente, "geriatria" significa "a medicina dos velhos". Ou seja, percebo um certo etarismo por parte da IA. Não tem alívio. Tipo "terceira idade", "idoso", "vintage". É "velho" e pronto! Sacanagem isso. Só faltou aparecer aquela figurinha arqueada de bengala que existe desenhada na área demarcada dos estacionament...

O Ataque dos Pássaros

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Esse incidente é recente, mas preciso retornar umas décadas para contextualizar. Início dos anos 80 do século passado. Estava em um dos meus primeiros embarques em plataforma de petróleo na Bacia de Campos. A plataforma chamava-se MPG, Módulo Provisório de Garoupa. Essa palavra - provisório - já explica que a mesma não estava concluída. Por exemplo, as acomodações eram containers adaptados. Inclusive onde dormíamos. E tinha goteiras em cima dos beliches. As "aventuras" vividas naquela época dariam um livro com histórias cômicas e outras trágicas. Muitas quase inacreditáveis. Vividas pelos pioneiros do petróleo em alto mar, dos quais me orgulho de ter feito parte, como empregado da maior empresa já criada neste país, a Petrobras. O embarque seguinte foi melhor. É que, devido ao volume de obras e de trabalhadores, foi necessário encostar ao lado da plataforma uma espécie de hotel flutuante, chamado exatamente de "flotel", para receber o pessoal no fim do turno. Conect...