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O Deserto dos Tártaros

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"Vinte e dois meses haviam passado sem trazer nada de novo, e ele permanecera firme, esperando, como se a vida devesse ter para com ele uma particular indulgência". Virei a chave do carro e o som ligou automaticamente, se conectando com o celular que estava no modo bluetooth , que por sua vez reconheceu a conexão e abriu o Spotify que selecionou minha última playlist ouvida, Classic New Age Music. Mas ao dirigir queria outro fundo musical e escolhi a lista Classic Rock (fiz várias com o nome começando com o termo Classic que, em outras palavras, significa "coisa antiga", lá do século passado; tenho uma leve desconfiança que isso tem um significado, se é que me entendem). Trânsito caótico das 17:30 h em ruas periféricas ao centro da cidade. Ainda bem que estava em companhia das velhas canções. Só não dava para ler um livro no carro, mesmo parado no engarrafamento, embora hoje já existam audiobooks , o que não é a mesma coisa mas é aplicável em algumas situações. ...

Tattoo You

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Ao que parece os Rolling Stones, depois de mais de 60 anos de estrada, não desistiram de fazer o que os mantém vivos, a música. Seus componentes, que já ultrapassaram há algum tempo a linha dos 80, estão preparando um novo disco que sairá ano que vem. Isso segundo minhas fontes secretas. É provável que façam inclusive uma tour que poderá ser a última. Ou não. Nunca se sabe o que esperar desses senhores sobreviventes dos loucos e ótimos anos 60 e 70 (não tanto no Brasil por causa da ditadura). O que me fez lembrar da capa do seu álbum de 1981. Nela o premiado ilustrador Christian Piper trabalhou sobre uma foto do Mick Jagger, cobrindo totalmente sua face com tatuagens tribais, tendo como base a tradição dos Maori, da Polinésia. Mas a ideia vai além pois Piper também fez um longo estudo sobre os guerreiros Samurais. Segundo ele os mais fortes teriam direito a fazer tatuagens no rosto. Uma constatação gráfica da história desses guerreiros do Rock. Mas não só no Rock há referências à esta ...

Odete

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Não acompanhei o assassinato da Odete Roitman. Quer dizer, assisti a primeira morte, lá pelos idos da década de 1980. Portanto não tenho condições de indicar de forma certeira quem foi o assassino desta vez mas, acreditem, eu acertaria! A bem da verdade via todas as novelas, isso ao longo da infância distante. Tipo Irmãos Coragem, início dos anos 70. Tempos idos, suburbanos, o que me faz lembrar que sou "carioca da gema". Quer dizer, mais ou menos. Ao longo das décadas essa expressão vem tendo mudanças em seu significado. Atualmente prevalece a noção de que trata-se do carioca filho de pais cariocas. Neste caso eu seria "carioca da clara". Uma das teorias anteriores era que o termo era indicado para quem nasceu nos bairros mais antigos do Rio, datados do Século XIX, pelo menos. Neste caso tô dentro. Não que tenha nascido em  mil oitocentos e alguma coisa... Foi em 1959, o Rio ainda era a capital do Brasil. Hospital Dom Pedro II no distante subúrbio de Santa Cruz. Ok...

Primeiro de Setembro

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Já estava percebendo há algum tempo. O pé de pitanga estava com suas folhas escurecendo. Depois foi a jabuticabeira. Carregou, mas as frutas estavam com pequenos pontos brancos por cima da casca, como ciscos. Neste caso não me refiro à empresa multinacional Cisco Sistems e sim a partículas quase microscópicas parecidas com palha. Resolvi recorrer a um especialista, dono de um horto aqui perto de casa. Recolhi umas folhas de pitanga e uma jabuticaba. O diagnóstico da primeira foi certeiro (um tipo de ferrugem provocado por fungos). Já o da frutinha foi inconclusivo. Pelo menos eu não concordei, embora não seja expert no tema. De qualquer forma saí de lá com dois tratamentos: uma calda bordalesa, que tem cor azul turquesa e combate fungos e bactérias, além de ser um fertilizante foliar (sulfato de cobre e cal virgem). E um inseticida à base de Lambda-Cialotrina que é eficaz contra pulgões, cochonilhas, lagartas e formigas, segundo a embalagem. Esse último eu não apliquei ainda. É que o i...

Distopia (Série Minicontos Modernos)

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A nova escola quântica ficou pronta. 15 alunos com 5 anos já haviam sido matriculados. Um número altíssimo considerando a taxa de natalidade de 0,5 filhos por polisal (aglomeração romântica composta por no máximo 10 pessoas de todos os sexos), mesmo com a facilidade da clonagem rápida. Por isso mesmo a Autoridade Superior (AS) já estava promovendo mudanças na regulamentação em vigor, no sentido de pegar para si a reprodução e educação de novos seres humanos. Críticos secretos apelidaram essa nova lei de "Chocadeira Eletrônica" e estudavam meios de sabotar as diversas granjas "Nenéns Alcalinos" que estavam em construção. Caso não conseguissem, o plano b era utilizar um simpatizante da causa que trabalhava na Indústria Central de Suplementos Alimentares. A ideia era inserir secretamente o tetrahidrocanabidiol na nutrição dos recém chocados, desta forma reconfigurando as sinapses cerebrais, desenvolvendo assim pessoas mais afáveis, numa boa. Ao som de eletroreggae. A r...

Notícias

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Esta semana quase não acompanhei o noticiário. O que é uma raridade. Na época não digital eu assinava revistas semanais, jornais locais e nacionais. E ainda assistia ao resumo do dia na TV aberta, porque não existiam os canais fechados de notícias. Não sei bem porque, mas sempre foi assim. Com as facilidades atuais, passei a acompanhar também online os acontecimentos. Como afirmei, fiquei desatualizado porque os últimos dias foram de dedicação exclusiva a um ótimo congresso de trabalhadores, de 8 às 22 horas, em média, onde revi amigos, conheci outros e nos preparamos para embates que teremos pela frente. E isso apesar de estar enfrentando uma daquelas recorrentes crises de rinite por conta da queda brusca de temperatura. Como estava longe de casa e consequentemente não poderia marcar uma consulta de encaixe urgente com a excelente otorrinolaringologista que pacientemente me acompanha há 40 anos (acho que há algum tipo de figura de linguagem aqui, pois no caso o paciente sou eu) o jeit...

Minicontos Modernos (1)

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Leão XXV Um dos hábitos de sua infância era deitar na varanda e ficar observando as figuras que as nuvens formavam. Na vida adulta nunca mais fizera isso. Agora, olhando o céu de outono, salpicado de algodão sob um fundo azul celeste, se perguntou se sua imaginação seria capaz de vislumbrar tantas imagens como nos tempos juvenis. Girou a visão por todo o céu a partir de sua ampla janela da sala. Parou em um ponto em que as nuvens eram mais espessas, lembrava-se que aquelas eram as ideais, as tais Cumulonimbus. O tempo passou e nada. Começou a achar que um dos preços a pagar por conta do passar do tempo era a derrocada da criatividade visual, da fantasia. Não se deu por vencido. O Notebook estava ali perto. Digitou no Google: "ver imagens em nuvens". Retorno da IA: "O fenômeno de ver imagens em nuvens, ou em qualquer outro estímulo aleatório, é conhecido como pareidolia. É uma tendência natural do cérebro humano de procurar e reconhecer padrões significativos em estímulos...